Qual a estratégia de inovação mais adequada para um escritório contábil de alta performance?

Qual a estratégia de inovação mais adequada para um escritório contábil de alta performance?

por Roberto Dias Duarte

Greg Satell is an author, speaker and adviser, who frequently contributes to Harvard Business Review
Greg Satell is an author, speaker and adviser, who frequently contributes to Harvard Business Review

Quem não gostaria de ser o próximo Google, Apple ou Netflix nos serviços contábeis? Para isso, só há um caminho: inovação na contabilidade. Já sabemos que ela não só afeta as economias globais e os modelos de negócios, mas a qualidade de vida das pessoas. Inovação e tecnologia mudaram a forma como as pessoas vivem, trabalham e fazem negócios.

Recentemente Greg Satell, escreveu um artigo na Harvard Business Review, sobre os principais tipos de inovação. Segundo o autor, os gerentes são frequentemente informados de que devem “inovar ou morrer”, mas recebem pouca orientação sobre como fazê-lo. Não existe um “caminho verdadeiro” para a inovação, no entanto, existem estratégias eficazes para que os gerentes possam aumentar as suas chances de sucesso.

Caminhos para inovação de escritórios contábeis

A pergunta que o contador deve estar se fazendo é: a gestão estratégica de inovação na contabilidade está funcionando no meu escritório? Para muitos empresários, a inovação na contabilidade é a solução de problemas. E é bem verdade que há tantas maneiras de inovar quantos problemas para resolver.

É preciso começar a tratar a inovação como como um conjunto de ferramentas que são projetadas para atingir objetivos específicos. Da mesma forma que não confiamos em uma única técnica de marketing ou uma única fonte de financiamento, precisamos criar aquilo a que Greg Satell chamou um portfólio de estratégias de inovação projetadas para tarefas específicas.

Pensando nisso, ele criou uma matriz de Inovação para ajudar os líderes a identificar o tipo certo de estratégia para resolver um problema, fazendo duas perguntas:

  1. Como podemos definir o problema?
  2. Quão bem podemos definir o(s) domínio(s) de habilidades necessários para resolvê-lo?

As  respostas levam o líder visualizar qual a estratégia de inovação mais adequada ao seu negócio. Segundo Greg, existem quatro.

1 – Inovação de sustentação ou de melhoria (Sustaining Innovation):

Faça o que fizer, você sempre vai querer melhorar. Ano após ano, surgem câmeras com mais pixels, computadores mais potentes e rápidos e utensílios domésticos mais robotizados.

Uma inovação sustentável melhora os produtos existentes, não cria novos mercados ou mercados de valor. Uma inovação sustentável visa clientes exigentes e de ponta com melhor desempenho do que o que estava disponível anteriormente.

Sustentar a inovação é provavelmente o mais comum no mundo corporativo. Por exemplo, quando Steve Jobs queria um mouse para o computador Macintosh, ele foi ao IDEO com especificações técnicas claras sabendo que eles tinham as habilidades certas para produzir o que ele queria.

A Apple, por exemplo, raramente produz algo verdadeiramente novo. A empresa não inventou o Ipod, o smartphone ou mesmo o tablet, no entanto, a sua equipe melhorou as versões anteriores de tal forma que parecem algo completamente novo.

No escritório de contabilidade esse tipo de inovação pode ser adotada de várias formas:

  • Implantação de metodologias de qualidade e controle de processos dos serviços contábeis.
  • Implantação de sistemas eletrônicos para controle de custos, prazos, entregas e processos.
  • Criação de portais de atendimento via internet para os clientes usarem melhor os serviços contábeis.

2- Inovação Revolucionária (Breakthrough Innovation):

Na inovação revolucionária, novas habilidades são aplicadas a um problema claramente definido, que é altamente difícil de resolver. Como Thomas Kuhn explicou na sua obra intitulada Estrutura das Revoluções Científicas, avançamos em campos específicos criando paradigmas, que às vezes podem tornar muito difícil a resolução de um problema no domínio em que surgiu. Mas este pode ser resolvido com bastante facilidade dentro do paradigma de um domínio adjacente.

Na mesma linha, muitas empresas estão aprendendo a abraçar a inovação aberta, a fim de atrair diversos recursos. A necessidade de encontrar a estrutura do DNA era um problema muito bem definido, mas até Linus Pauling, um químico muito talentoso, não conseguiu obter a resposta. Mas James Watson e Francis Crick resolveram o problema do DNA combinando insights da química, biologia e difração de raios-X. Este é um exemplo de inovação revolucionária.

Na prestação de serviços contábeis, podemos identificar várias formas de inovação revolucionária:

3 – Inovação Disruptiva (Disruptive Innovation):

A  inovação disruptiva é particularmente complicada, pois o empreendedor não a conhece até que a veja. E muitas vezes o seu valor não é imediatamente claro.

Quando Clayton Christensen, professor de Administração na Harvard Business School, introduziu o conceito de inovação disruptiva em seu livro “The Innovator’s Dilemma”, foi uma revelação.

Em seu estudo, ele descobriu que o que normalmente é considerado melhor prática – ouvir clientes, investir continuamente na melhoria do negócio – pode ser letal em algumas situações.

Resumindo, o que ele apontou é que, quando a base da concorrência muda, devido a mudanças tecnológicas ou outras mudanças no mercado, as empresas podem encontrar cada vez mais e melhor as coisas que os clientes querem. E, quando isso acontece, inovar seus produtos não ajudará – é preciso inovar no modelo de negócios.

O Yahoo e o Blockbuster Video, por exemplo, tiveram “a faca e o queijo na mão” para investir (comprar!) no Google e Netflix no início, mas perderam essa oportunidade porque não viram o potencial.

No setor de serviços contábeis, a Contabilidade Digital é uma forma de inovação disruptiva. O modelo de contabilidade digital se propõe a utilizar a tecnologia da informação para automatizar, tanto quanto possível, a escrituração e a demonstração, liberando tempo para que o profissional exerça a sua função científica. Na prática isso significa que o escritório deve incentivar a adoção de sistemas de gestão em nuvem (ERP) em seus clientes. Mas não somente isso, este ERP em nuvem deve ser conectado aos sistemas contábeis.

4 – Pesquisa Básica (Basic Research):

Quando empresário ou gestor está visando descobrir algo realmente novo, nem o problema nem o domínio estão realmente definidos. Algumas empresas podem estar dispostas a investir em divisões de pesquisa em larga escala. Outras no entanto, tentam manter as melhores descobertas por meio de bolsas de pesquisa e filiações acadêmicas. Muitas vezes as três abordagens são combinadas em um programa abrangente.

Embora a pesquisa básica raramente leve diretamente a novos produtos ou serviços, muitas empresas investem bastante dinheiro nisso. A IBM, por exemplo,  têm laboratórios internos fazendo pesquisa primária, enquanto outras organizações investem por meio de bolsas de pesquisa para cientistas externos e filiações acadêmicas.

O Google convida cerca de 30 pesquisadores a passar um ano sabático na empresa e financia 250 projetos acadêmicos anualmente.

Embora o foco seja importante, nenhuma empresa deve limitar a sua escolha a  apenas uma forma de inovação. A Apple, por exemplo, é principalmente um inovador sustentável, mas o iTunes certamente foi uma importante inovação disruptiva. O Google pode ser o maior inovador disruptivo no mundo, mas eles gastam recursos consideráveis ​​para melhorar os produtos existentes, além de investirem em pesquisa básica.

No mundo de serviços contábeis a pesquisa básica sobre inovação é muito rara. Quando ela ocorre, em geral, é feita de forma empírica pelo próprio fundador que participa de eventos fora do país. Enfim, ele busca entender o movimento global dos serviços contábeis.

O portfólio de inovação da empresa contábil

Portanto, é importante desenvolver um portfólio de inovação efetivo que tenha uma área primária de foco, mas também perseguir outros estratégias da matriz de inovação e criar sinergias entre as diferentes abordagens. A inovação é, acima de tudo, sobre a combinação.

E porque estou trazendo essa matriz aqui pra você? Para ilustrar que, no seu escritório contábil, vários tipos de inovação podem acontecer. O importante é que você esteja aberto e atento para isso. Por exemplo, os dispositivos móveis já são muito utilizados no mundo corporativo. Se você promover algum tipo de serviço para seus clientes utilizando esta tecnologia, pode parecer que não será lá uma grande inovação. Mas se melhorar os resultados para seu ecossistema, isso não será ótimo?! Às vezes não promovemos uma mudança, por achar que estamos “fazendo mais do mesmo”, e nem sempre é assim.

Se a gestão estratégica de inovação na contabilidade está lutando ou falhando, considere se é porque você está “trancado” em uma única abordagem. Faça como empresas de sucesso em todo o mundo e aprenda a aplicar a solução inovadora que melhor se adequa ao seu problema atual.