TL;DR: O Google lançou o AI Mode, que substitui os resultados tradicionais de busca por respostas completas geradas por IA, eliminando a necessidade de visitar outros sites. Essa mudança ameaça o modelo econômico da internet, que depende do tráfego enviado pelo Google para sustentar sites através de publicidade. Especialistas alertam para um possível colapso da web aberta, enquanto o Google promete que a ferramenta tornará a internet mais útil.
Takeaways:
- O AI Mode pode devastar a receita de milhões de sites ao cortar drasticamente o tráfego de visitantes, já que 60% das buscas no Google são “zero-click”
- A mudança representa uma quebra do acordo de 30 anos entre Google e criadores: sites fornecem conteúdo gratuito em troca de visitantes
- Surge o conceito de “machine web”, onde sites serão otimizados para robôs de IA em vez de leitores humanos
- Criadores de conteúdo precisam urgentemente diversificar fontes de tráfego e explorar novos modelos de monetização
- A concentração de poder no Google (que processa 5 trilhões de buscas anuais) significa que suas decisões sobre IA afetam toda a economia digital global
O Futuro da Web Está em Jogo: Como o AI Mode do Google Pode Transformar (ou Destruir) a Internet Como Conhecemos
Você já parou para pensar como seria a internet se o Google simplesmente parasse de enviar visitantes para outros sites?
Essa realidade pode estar mais próxima do que imaginamos. Em maio de 2025, o Google anunciou uma mudança revolucionária que promete transformar completamente a forma como buscamos e consumimos informações online.
O AI Mode chegou para substituir os tradicionais resultados de busca por respostas geradas por inteligência artificial. Enquanto o Google celebra essa inovação como o futuro da web, especialistas alertam para um possível “apocalipse digital” que pode devastar milhões de sites e criadores de conteúdo.
A pergunta que não quer calar é: estamos prestes a testemunhar o fim da internet aberta como a conhecemos?
A Revolução Silenciosa: O Que É o AI Mode e Por Que Ele Muda Tudo
O AI Mode representa uma reimaginação completa da busca tradicional. Diferente do conhecido AI Overviews, que ainda mantém links para sites, essa nova ferramenta substitui completamente os resultados tradicionais por um chatbot inteligente.
Imagine fazer uma pergunta e, em vez de receber uma lista de links, você obtém um artigo completo gerado por IA que responde diretamente sua dúvida. Parece conveniente, não é?
Como funciona na prática:
- A IA divide sua pergunta em subtópicos
- Realiza múltiplas pesquisas simultaneamente
- Gera uma resposta abrangente em formato de artigo
- Elimina a necessidade de visitar outros sites
Liz Reid, chefe de Busca do Google, foi categórica: “O AI Mode é o futuro do Google Search”. Com o Google processando cinco trilhões de buscas por ano, essa mudança tem o poder de reformular toda a internet.
Mas aqui está o problema: se as pessoas encontram suas respostas diretamente no Google, por que visitariam outros sites?
O Modelo Econômico da Web em Xeque: Quando o Tráfego Desaparece
Durante quase 30 anos, a internet funcionou com base em um acordo simples: sites criam conteúdo gratuito, o Google indexa esse conteúdo e envia visitantes de volta. Esses visitantes veem anúncios, compram produtos e sustentam todo o ecossistema digital.
O AI Mode ameaça quebrar esse ciclo virtuoso.
Os números são alarmantes:
- 60% das buscas no Google já são “zero-click” (usuários não visitam nenhum link)
- O AI Overviews reduziu o tráfego entre 30% e 70% para diversos sites
- Impressões aumentaram 49%, mas cliques caíram 30%
Lily Ray, especialista em SEO da Amsive, não economiza nas palavras: “O AI Mode terá um impacto devastador na internet, cortando a principal fonte de receita para a maioria dos editores”.
O Caso Real da HouseFresh
Gisele Navarro, da HouseFresh, vivencia na pele essa transformação. Seu site especializado em análises de produtos domésticos registrou um fenômeno preocupante: as impressões (quantas vezes o site aparece nos resultados) aumentaram, mas os cliques despencaram.
“É como se o Google estivesse mostrando nosso conteúdo para as pessoas, mas ninguém mais clica para visitá-lo”, explica Navarro. “O Google está destruindo a web aberta como a conhecemos.”
A Defesa do Google: Otimismo ou Negação da Realidade?
O Google mantém um discurso otimista, argumentando que o AI Mode tornará a web “mais saudável e útil”. Segundo a empresa, a ferramenta:
- Enviará bilhões de cliques para sites diversos
- Criará novas oportunidades de descoberta de conteúdo
- Direcionará tráfego de “maior qualidade”
Um porta-voz da empresa afirma que “as previsões sobre efeitos negativos são infundadas” e que o Google “se preocupa com a saúde da web”.
Mas há uma contradição evidente: se o AI Mode fornece respostas completas, por que os usuários visitariam outros sites? O Google não nega que suas ferramentas de IA reduzem o tráfego total enviado para a web.
A questão central permanece: como os criadores de conteúdo sobreviverão se robôs não clicam em anúncios?
O Nascimento da “Machine Web”: Quando Sites São Feitos Para Robôs
Demis Hassabis, chefe do Google DeepMind, visualiza um futuro onde editores alimentam conteúdo diretamente para modelos de IA, sem se preocupar em criar sites para humanos lerem.
Bem-vindos à “machine web” – uma internet onde:
- Sites são otimizados para leitura por IA, não por pessoas
- Resumos de chatbots se tornam a principal forma de consumir informação
- A experiência de navegar e descobrir conteúdo é substituída por respostas instantâneas
Matthew Prince, CEO da Cloudflare (que fornece serviços para um quinto de todos os sites), alerta: “Se a IA se tornar a audiência principal, os criadores não receberão pagamento, pois robôs não clicam em anúncios”.
Modelos Alternativos: A Busca Desesperada por Sustentabilidade
Com a receita publicitária em risco, surgem tentativas de novos modelos econômicos:
Licenciamento de Conteúdo:
- The New York Times licencia conteúdo para Amazon
- Google paga $60 milhões anuais ao Reddit por dados de usuários
- Acordos diretos entre gigantes da tecnologia e grandes publishers
O problema: esses acordos beneficiam apenas grandes veículos. Sites menores e criadores independentes ficam de fora.
Tom Critchlow, da Raptive, é cético: “Duvido que o pagamento por conteúdo seja um modelo que funcione na escala necessária para sustentar a web”.
A Migração Para Redes Sociais: Solução ou Novo Problema?
Muitos criadores consideram migrar para plataformas de mídia social, mas Navarro alerta: “Os algoritmos das mídias sociais são ainda mais volúveis”.
Essa mudança pode resultar em:
- Perda de autonomia dos criadores
- Conteúdo mais superficial e sensacionalista
- Sacrifício da profundidade em favor do entretenimento
- Dependência total de algoritmos de terceiros
A Questão da Qualidade: Quando a IA Alucina
Um aspecto preocupante do AI Mode é a precisão das informações. Sundar Pichai, CEO do Google, admitiu que “alucinações são uma característica inerente da tecnologia de IA”.
Riscos identificados:
- Informações imprecisas apresentadas como fatos
- “Chat chambers” – câmaras de eco criadas pela própria IA
- Reforço de desinformação através de respostas automatizadas
- Perda da capacidade de verificar fontes originais
Mike King, da iPullRank, observa: “A IA pode criar mais bolhas de filtro, pois o Google está interpretando as informações em vez de fornecê-las diretamente aos usuários”.
O Monopólio em Questão: Quando o Poder Se Concentra
A situação se torna ainda mais complexa quando consideramos que tribunais americanos já determinaram que o Google opera monopólios ilegais em busca e publicidade digital.
Dados reveladores:
- 72% dos americanos usam ferramentas de IA como ChatGPT em vez de motores de busca tradicionais
- Pesquisas no Google Safari caíram pela primeira vez em 22 anos
- Concorrentes do Google têm participação de mercado insignificante
Essa concentração de poder significa que as decisões do Google sobre IA afetam toda a economia digital global.
Resistência e Alternativas: A Luta Pela Web Aberta
Nem todos aceitam passivamente essa transformação. Matthew Prince, da Cloudflare, planeja uma intervenção direta: bloquear rastreadores de IA a menos que as empresas de tecnologia paguem pelo conteúdo.
Cory Doctorow sugere que “o momento é oportuno para os usuários da internet pressionarem por mudanças e construírem uma coalizão, capitalizando a raiva que as mudanças do Google podem gerar”.
Estratégias de resistência emergentes:
- Bloqueio de bots de IA através de robots.txt
- Coalizões de publishers para negociação coletiva
- Desenvolvimento de motores de busca alternativos
- Pressão regulatória sobre monopólios tecnológicos
O Que Isso Significa Para Você: Criador, Consumidor ou Ambos
Se você é criador de conteúdo, precisa se preparar para:
- Diversificar fontes de tráfego além do Google
- Explorar modelos de monetização alternativos
- Construir audiência própria através de newsletters e comunidades
- Considerar parcerias diretas com plataformas de IA
Se você é consumidor de informação, reflita sobre:
- A conveniência versus a diversidade de fontes
- A importância de verificar informações em múltiplas fontes
- O valor de apoiar diretamente criadores que você admira
- Os riscos de depender exclusivamente de respostas geradas por IA
O Futuro Incerto: Adaptação ou Extinção?
Dame Wendy Hall, especialista em web, resume bem a situação: “A IA vai mudar todas as dinâmicas da web, mas não sei exatamente o que vai acontecer. Se o Google seguir por esse caminho, alguma mente brilhante criará uma nova forma de ganhar dinheiro”.
A história da internet é marcada por constantes transformações. A questão não é se a mudança vai acontecer, mas como nos adaptaremos a ela.
Cenários possíveis:
- Adaptação bem-sucedida: Novos modelos econômicos emergem, criadores encontram formas inovadoras de monetização
- Concentração extrema: Apenas grandes players sobrevivem, a web se torna menos diversa
- Fragmentação: Surgem ecossistemas alternativos paralelos ao Google
- Regulação: Intervenção governamental reequilibra o poder
Conclusão: O Momento Decisivo da Internet
O AI Mode do Google representa mais do que uma simples atualização tecnológica. É um ponto de inflexão que pode redefinir completamente como criamos, distribuímos e consumimos informação online.
Enquanto o Google promete um futuro mais eficiente e útil, críticos alertam para os riscos de concentração de poder e perda de diversidade na web. A realidade provavelmente estará em algum lugar entre essas visões extremas.
O que sabemos com certeza é que a internet de 2026 será muito diferente da que conhecemos hoje. A questão não é se devemos aceitar essa mudança, mas como podemos influenciá-la para que beneficie não apenas as gigantes da tecnologia, mas toda a comunidade online.
A escolha é nossa: podemos ser espectadores passivos dessa transformação ou protagonistas ativos na construção do futuro da web.
O que você escolhe? Como pretende se adaptar a essa nova realidade? O futuro da internet também depende das decisões que tomamos hoje.
Fonte: BBC. “IS GOOGLE ABOUT TO DESTROY THE WEB?”. Disponível em: https://www.bbc.com