Guia Completo: Comparação do Mercado de Contabilidade entre Portugal e Brasil
Introdução
A contabilidade representa um pilar fundamental para a sustentabilidade e conformidade legal de qualquer empreendimento, independentemente de seu porte ou setor de atuação. Tanto no Brasil quanto em Portugal, a grande maioria das empresas não dispõe de uma equipe contábil interna, recorrendo à contratação de escritórios especializados para garantir a gestão fiscal e legal adequada de seus negócios. Este relacionamento entre empresas e contadores transcende a simples prestação de serviços, estabelecendo-se como uma parceria estratégica e duradoura que influencia diretamente o desenvolvimento empresarial.
Este guia apresenta uma análise comparativa detalhada do mercado de contabilidade em Portugal e no Brasil, explorando as semelhanças e diferenças significativas entre estes dois países lusófonos. Examinaremos o perfil dos clientes atendidos, os serviços mais requisitados e as características estruturais que definem o setor contábil em cada país, oferecendo uma visão abrangente que pode auxiliar profissionais e empresários a compreender melhor as dinâmicas deste mercado essencial.
Pré-requisitos para compreensão do guia
Para melhor aproveitamento deste guia, é recomendável:
- Conhecimento básico sobre conceitos contábeis e terminologia do setor
- Compreensão elementar sobre a estrutura empresarial (micro, pequenas, médias e grandes empresas)
- Interesse em análise comparativa de mercados internacionais
- Familiaridade com métricas de negócios como ticket médio e fidelização de clientes
1. A importância da contabilidade para empresas de todos os portes
A contabilidade constitui um alicerce indispensável para a solidez de qualquer empreendimento, atuando como guardiã da saúde financeira e da conformidade legal das organizações. Independentemente do tamanho do negócio, desde microempreendedores individuais até grandes corporações multinacionais, a gestão contábil adequada proporciona segurança jurídica e transparência nas operações, elementos cruciais para a sustentabilidade empresarial a longo prazo. Esta necessidade universal explica por que a contabilidade é um dos setores de serviços mais resilientes e perenes, mesmo em cenários econômicos desafiadores.
Para a maioria das empresas, especialmente aquelas de pequeno e médio porte, manter uma equipe contábil interna representa um custo fixo significativo, além de exigir conhecimentos técnicos específicos em constante atualização. A alternativa mais viável e amplamente adotada é a contratação de escritórios de contabilidade especializados, que oferecem expertise diversificada e atualizada sobre legislações fiscais, trabalhistas e societárias. Esta terceirização estratégica permite que as empresas concentrem seus recursos e esforços em suas atividades-fim, enquanto confiam a gestão contábil a profissionais qualificados que acompanham diariamente as mudanças regulatórias.
No Brasil, a relação com um contador é uma obrigatoriedade legal para praticamente todas as empresas formalizadas, com exceção dos Microempreendedores Individuais (MEIs), que possuem um regime simplificado. Em Portugal, embora existam algumas flexibilidades para negócios de menor porte, a complexidade tributária e as exigências de compliance também tornam a contratação de serviços contábeis uma necessidade prática para a grande maioria dos empreendimentos. Esta dependência mútua estabelece uma correlação direta entre o crescimento econômico e a expansão do setor contábil, criando um ecossistema onde o desenvolvimento de um impulsiona o outro, em um ciclo virtuoso de profissionalização e formalização da economia.
2. Tamanho e número de clientes nos escritórios de contabilidade em Portugal e Brasil
O dimensionamento dos escritórios de contabilidade e sua capacidade de atendimento apresentam variações significativas quando comparamos as realidades brasileira e portuguesa, refletindo as particularidades de cada mercado e sua estrutura econômica. No Brasil, segundo dados do Conselho Federal de Contabilidade, existem mais de 71 mil escritórios distribuídos pelo território nacional, atendendo uma média de 114 clientes por estabelecimento. Este número expressivo demonstra a capilaridade e a relevância do setor contábil na economia brasileira, que precisa atender a um universo empresarial vasto e diversificado, composto por mais de 19 milhões de empresas ativas, segundo dados recentes da Receita Federal.
Em Portugal, o cenário apresenta-se mais concentrado e consolidado proporcionalmente. De acordo com estudos da consultoria Growth for Knowledge, o país conta com aproximadamente 7 mil organizações contabilistas, que atendem uma média de 70 clientes por escritório. Esta diferença na média de clientes por estabelecimento não se deve apenas à disparidade populacional e territorial entre os países, mas também reflete modelos de negócios distintos e níveis diferentes de maturidade do mercado. O mercado português, sendo mais antigo e estabelecido, apresenta uma estruturação mais definida, enquanto o brasileiro ainda passa por processos de consolidação em diversas regiões.
A correlação entre o tamanho do escritório e sua carteira de clientes mantém-se consistente em ambos os países, porém com proporções distintas. Em Portugal, os escritórios de pequeno porte administram, em média, carteiras com 40 clientes, enquanto seus equivalentes brasileiros atendem cerca de 68 empresas. Quando analisamos os grandes escritórios, a disparidade aumenta: os portugueses de maior porte gerenciam aproximadamente 150 clientes, enquanto os brasileiros chegam a atender 290 empresas. Esta diferença reflete não apenas questões de escala, mas também aspectos relacionados à complexidade tributária brasileira, que muitas vezes exige processos mais padronizados e escaláveis para viabilizar o atendimento de um número maior de clientes, especialmente no segmento de pequenas e médias empresas.
3. Setores que mais contribuem para a receita de escritórios de contabilidade em Portugal
Em Portugal, a distribuição da receita dos escritórios de contabilidade reflete diretamente a estrutura econômica do país e os setores que apresentam maior dinamismo e complexidade regulatória. Os setores mais desenvolvidos economicamente tendem a demandar serviços contábeis mais sofisticados e frequentes, contribuindo de maneira mais significativa para o faturamento dos escritórios. De acordo com o estudo “Retrato dos Escritórios de Contabilidade em Portugal”, as atividades financeiras e de seguros figuram no topo da lista dos setores que mais geram receita para os contabilistas portugueses, um reflexo da forte presença do setor bancário e securitário na economia lusitana e da complexidade regulatória que envolve estas operações.
O setor educacional ocupa a segunda posição neste ranking, demonstrando a relevância das instituições de ensino privadas e das fundações educacionais no cenário português. A indústria, o comércio e a saúde completam o quinteto de setores mais representativos para o faturamento dos escritórios contábeis em Portugal. Esta configuração evidencia um equilíbrio entre setores tradicionais e de serviços, refletindo a diversificação da economia portuguesa nas últimas décadas, que transitou de uma base predominantemente industrial para uma estrutura mais balanceada, com forte presença do setor terciário.
Analisando o perfil dos clientes atendidos pelos escritórios portugueses, observa-se que aproximadamente 70% são microempresas, 11% são classificadas como pequenas ou médias empresas, e apenas 3% são consideradas grandes empresas. Esta distribuição é particularmente relevante para os escritórios de menor porte, onde as microempresas representam a principal fonte de receita – 99% destes escritórios possuem pelo menos uma microempresa em sua carteira de clientes. Esta dependência do segmento de microempresas representa tanto uma oportunidade de mercado amplo quanto um desafio para a rentabilidade, uma vez que este perfil de cliente geralmente demanda serviços mais básicos e possui menor capacidade de investimento em serviços contábeis avançados.
4. Contribuição dos diferentes tipos de clientes para a receita de escritórios de contabilidade no Brasil
O mercado brasileiro de contabilidade apresenta uma segmentação clara quando analisamos a contribuição dos diferentes perfis de clientes para a receita dos escritórios. De acordo com pesquisas setoriais, o ticket médio geral dos serviços contábeis no Brasil gira em torno de R$ 1.057 mensais, mas este valor varia significativamente conforme o porte do escritório e o perfil de sua carteira de clientes. Para os 80% menores escritórios do mercado, o ticket médio cai para aproximadamente R$ 667, enquanto para os 20% maiores, este valor sobe para R$ 1.427. Esta discrepância evidencia uma realidade estrutural do mercado: escritórios menores concentram sua atuação em micro e pequenas empresas, que possuem menor capacidade de investimento em serviços contábeis, enquanto as grandes firmas de contabilidade direcionam seus esforços para atender clientes de maior porte.
A distribuição da carteira de clientes também reflete esta segmentação. Entre os 80% menores escritórios, cerca de metade possui menos de 50 clientes ativos, operando em um modelo de atendimento mais personalizado e com estruturas mais enxutas. Já no segmento dos 20% maiores, metade dos escritórios gerencia mais de 250 contratos ativos, indicando operações de maior escala e mais padronizadas. Esta diferença na quantidade de clientes se reflete diretamente no faturamento: enquanto 49% dos escritórios menores faturam menos de R$ 30 mil mensais, no grupo dos maiores, 49% ultrapassam a marca de R$ 300 mil mensais em receitas.
Esta polarização do mercado brasileiro de contabilidade reflete a própria estrutura empresarial do país, caracterizada por uma vasta base de micro e pequenas empresas e um número proporcionalmente reduzido de grandes corporações. Os escritórios menores encontram seu nicho atendendo empresas com demandas contábeis mais básicas e orçamentos limitados, oferecendo serviços essenciais a preços acessíveis. Por outro lado, os grandes escritórios desenvolvem estruturas mais robustas e especializadas para atender às complexas necessidades das médias e grandes empresas, que exigem não apenas conformidade básica, mas também consultoria estratégica, planejamento tributário avançado e suporte para operações internacionais. Esta complementaridade permite que o mercado contábil brasileiro atenda de forma eficiente os diversos segmentos empresariais, cada um com suas particularidades e demandas específicas.
5. Comparação dos serviços mais procurados em Portugal e Brasil
Apesar das diferenças contextuais entre os mercados contábeis português e brasileiro, observa-se uma notável convergência nos serviços fundamentais mais demandados pelos clientes em ambos os países. Em Portugal, os cinco serviços mais procurados são, em ordem de relevância: contabilidade geral, processamento de salários, consultoria fiscal, apoio ao microempreendedor individual e declaração de início de atividade. Esta configuração reflete as prioridades das empresas portuguesas, que buscam primeiramente garantir a conformidade contábil básica e a gestão adequada da folha de pagamento, para então avançar para serviços mais consultivos e estratégicos, como o planejamento tributário e o suporte para novos empreendimentos.
No Brasil, o ranking dos serviços mais ofertados pelos escritórios de contabilidade apresenta similaridades significativas, embora com algumas variações que refletem particularidades do ambiente regulatório nacional. Os cinco serviços principais são: escrituração fiscal, escrituração contábil, processamento de folhas de pagamento, serviços paralegais e planejamento tributário. A presença destacada dos serviços paralegais na lista brasileira evidencia a complexidade burocrática enfrentada pelas empresas no país, que frequentemente necessitam de suporte para lidar com registros em órgãos governamentais, obtenção de licenças e autorizações, e outras exigências legais que vão além do escopo estritamente contábil. O planejamento tributário também ganha maior relevância no contexto brasileiro, em virtude da intrincada estrutura fiscal do país, com múltiplos tributos em diferentes esferas governamentais.
Uma diferença notável entre os dois mercados está no papel do contador em relação à emissão de documentos fiscais. Em Portugal, aproximadamente 80% das faturas são emitidas diretamente pelos contadores em nome de seus clientes, centralizando este processo crítico e garantindo sua conformidade imediata. No Brasil, embora os contadores frequentemente auxiliem na configuração e supervisão dos sistemas de faturamento, a emissão de notas fiscais tende a ser mais descentralizada, com as próprias empresas gerindo este processo no dia a dia, sob a orientação contábil. Esta distinção reflete não apenas diferenças operacionais, mas também níveis distintos de delegação e confiança entre empresas e seus prestadores de serviços contábeis, além de particularidades dos sistemas fiscais eletrônicos implementados em cada país.
6. Semelhanças e diferenças entre os mercados de contabilidade em Portugal e Brasil
Ao analisarmos comparativamente os mercados contábeis de Portugal e Brasil, identificamos que as semelhanças superam significativamente as diferenças, especialmente no que tange à estrutura de relacionamento entre escritórios e clientes. Em ambos os países, observa-se um padrão consistente na correlação entre o tamanho do escritório de contabilidade e o perfil de clientes atendidos. Os escritórios de menor porte, tanto portugueses quanto brasileiros, concentram sua atuação no atendimento a micro e pequenas empresas, oferecendo serviços mais padronizados e a preços mais acessíveis. Este posicionamento permite que atendam às necessidades básicas de conformidade fiscal e contábil deste segmento numeroso de empresas, que constitui a base da pirâmide empresarial em ambas as economias.
Por outro lado, os grandes escritórios de contabilidade, em ambos os países, direcionam seus esforços primordialmente para o atendimento de médias e grandes empresas, que demandam serviços mais complexos e especializados. Esta segmentação natural do mercado reflete não apenas questões de capacidade operacional, mas também de posicionamento estratégico e desenvolvimento de competências específicas. Os grandes escritórios investem em estruturas mais robustas, equipes multidisciplinares e tecnologias avançadas para atender às necessidades de clientes corporativos, que frequentemente envolvem questões contábeis internacionais, planejamento tributário sofisticado e suporte para operações financeiras complexas.
Quanto aos serviços oferecidos, também se verifica uma substancial similaridade entre os dois mercados, com os serviços essenciais de contabilidade geral, escrituração fiscal e processamento de folhas de pagamento ocupando posições de destaque em ambos os países. As diferenças observadas são majoritariamente decorrentes de particularidades regulatórias e contextuais de cada nação, como o maior foco português no apoio ao microempreendedor individual e a maior relevância dos serviços paralegais no Brasil. Esta convergência de serviços fundamentais sugere que, apesar das diferenças culturais e regulatórias, as necessidades contábeis básicas das empresas transcendem fronteiras, permitindo que profissionais com experiência em um destes mercados possam adaptar-se com relativa facilidade ao outro, desde que se familiarizem com as especificidades legais e fiscais locais.
7. Conclusão e recomendações
A análise comparativa entre os mercados contábeis de Portugal e Brasil revela um panorama de notável similaridade estrutural, apesar das diferenças contextuais entre as duas economias. Esta constatação oferece valiosas perspectivas para profissionais e empresários que atuam ou pretendem atuar em ambos os países, demonstrando que as competências fundamentais e os modelos de negócio podem ser adaptados com relativa facilidade entre estes mercados. O estudo de mercados internacionais, como realizado neste guia, representa uma ferramenta estratégica para o aprimoramento profissional e empresarial, permitindo identificar tendências, oportunidades e práticas bem-sucedidas que podem ser incorporadas à realidade local.
O compartilhamento de conhecimentos e experiências entre profissionais contábeis de diferentes países constitui um caminho promissor para o desenvolvimento do setor como um todo. A troca de informações sobre metodologias, tecnologias e abordagens de mercado pode acelerar a evolução das práticas contábeis, beneficiando tanto os profissionais quanto seus clientes. Neste sentido, iniciativas de intercâmbio profissional, participação em congressos internacionais e estabelecimento de parcerias entre escritórios portugueses e brasileiros podem gerar sinergias significativas, especialmente no contexto de empresas que operam ou pretendem operar em ambos os mercados.
Para os escritórios de contabilidade que buscam crescimento sustentável, independentemente do país em que atuam, algumas recomendações emergem desta análise comparativa. Primeiramente, a importância de adaptar estratégias com base nas características do mercado-alvo e do porte do próprio escritório, reconhecendo que diferentes segmentos de clientes demandam abordagens distintas. Em segundo lugar, a constatação de que, apesar da crescente digitalização e automação do setor, a fidelização de clientes continua sendo um fator crítico para o sucesso a longo prazo, como evidenciado pelos longos períodos de relacionamento observados em ambos os países. Por fim, a necessidade de equilíbrio entre a oferta de serviços essenciais, que constituem a base da demanda em ambos os mercados, e o desenvolvimento de competências diferenciadas que possam agregar valor estratégico aos clientes, elevando o posicionamento do escritório além da mera conformidade legal e fiscal.
Fonte: Roberto Dias Duarte. “Perfil das empresas que mais geram receita para os escritórios contábeis de Brasil e Portugal”. Disponível em: https://www.robertodiasduarte.com.br/perfil-das-empresas-que-mais-geram-receita-para-os-escritorios-contabeis-de-brasil-e-portugal/.