Comparação entre Finfluencers e Influenciadores de IA

FAQ: Influenciadores Digitais em Finanças e IA – Como Avaliar Criticamente a Informação Online

Introdução

O crescente impacto das mídias sociais nas decisões individuais e coletivas tem gerado preocupações significativas sobre a qualidade das informações compartilhadas por influenciadores digitais, particularmente em áreas técnicas como finanças e inteligência artificial (IA). Este FAQ busca esclarecer questões importantes sobre a influência de “finfluencers” (influenciadores financeiros) e influenciadores de IA, explorando a relação entre popularidade e competência, o impacto nas decisões dos seguidores e a importância da avaliação crítica da informação online.

Com base em pesquisas acadêmicas recentes, abordaremos as principais dúvidas sobre como avaliar criticamente as recomendações desses influenciadores, entender os vieses que afetam nossas escolhas e desenvolver estratégias para tomar decisões mais informadas, tanto em investimentos financeiros quanto em implementações tecnológicas.

Perguntas Frequentes

1. O que são “finfluencers” e influenciadores de IA, e qual é o impacto deles nas decisões de seus seguidores?

Finfluencers são influenciadores digitais que compartilham conselhos e recomendações sobre investimentos financeiros e mercados de capitais através de plataformas de mídia social como Twitter, YouTube e Instagram. De maneira similar, influenciadores de IA são criadores de conteúdo que oferecem orientações sobre tecnologias emergentes de inteligência artificial, metodologias de implementação e tendências do setor.

O impacto desses influenciadores nas decisões de seus seguidores é significativo e muitas vezes desproporcional à qualidade de suas recomendações. Estudos mostram que investidores frequentemente seguem conselhos financeiros de influenciadores populares sem realizar uma avaliação crítica adequada, o que pode resultar em decisões de investimento inadequadas. A SEC (Securities and Exchange Commission) dos Estados Unidos já expressou preocupações sobre a proliferação de conselhos financeiros não regulados nas redes sociais.

No contexto da IA, observa-se fenômeno semelhante, com empresas e desenvolvedores individuais recorrendo a influenciadores populares para obter orientação sobre melhores práticas, ferramentas e metodologias. Seguir recomendações inadequadas pode levar a decisões tecnológicas errôneas, comprometendo a eficácia dos projetos de IA e resultando em ineficiências significativas.

2. Existe correlação entre a popularidade de um influenciador e a qualidade de suas recomendações?

Surpreendentemente, pesquisas indicam uma correlação negativa entre a popularidade dos influenciadores e a qualidade de suas recomendações, tanto em finanças quanto em IA. Um estudo abrangente analisando mais de 29.000 finfluencers na plataforma StockTwits revelou que apenas 28% deles poderiam ser classificados como “habilidosos”, gerando retornos anormais mensais positivos de aproximadamente 2,6%. Em contraste, a maioria (56%) foi classificada como “anti-habilidosos”, com suas recomendações resultando em perdas financeiras médias de 2,3% para seus seguidores.

Este fenômeno paradoxal pode ser explicado pela teoria da “sobrevivência de especialistas não qualificados” (Berk e Van Binsbergen, 2022), que sugere que fatores não relacionados à competência técnica, como carisma, habilidades de marketing ou simplesmente a capacidade de simplificar conceitos complexos (mesmo que incorretamente), podem ser mais determinantes para a popularidade dos influenciadores.

No contexto da IA, observa-se padrão semelhante, onde influenciadores populares podem ganhar seguidores por meio de estratégias de marketing eficazes e conteúdo atraente, mesmo que suas recomendações não sejam tecnicamente sólidas ou baseadas em evidências científicas robustas. Isso resulta em uma disseminação ampla de práticas subótimas e uma compreensão superficial das tecnologias de IA.

3. Por que tendemos a seguir influenciadores que compartilham nossas crenças e características? Como isso afeta a qualidade da informação que consumimos?

Este fenômeno é conhecido como homofilia – a tendência de nos associarmos e confiarmos em pessoas que percebemos como semelhantes a nós em termos de crenças, valores, características demográficas ou interesses. A homofilia desempenha um papel significativo na formação das redes de seguidores dos influenciadores e na disseminação de informações nas mídias sociais.

Seguidores tendem a escolher influenciadores com características ou crenças semelhantes às suas, criando um efeito de câmara de eco onde suas visões existentes são constantemente reforçadas. Este comportamento é particularmente problemático em áreas técnicas como finanças e IA, onde a precisão factual e a solidez metodológica deveriam ser os principais critérios para avaliar recomendações.

A homofilia afeta negativamente a qualidade da informação que consumimos de várias maneiras. Primeiro, ela restringe nossa exposição a perspectivas diversas e potencialmente mais informadas. Segundo, reforça vieses cognitivos preexistentes, tornando-nos menos receptivos a informações que contradizem nossas crenças, mesmo quando essas informações são factualmente corretas. Terceiro, contribui para a sobrevivência e popularidade de influenciadores não qualificados que simplesmente refletem e amplificam as crenças existentes de seus seguidores.

4. Como posso identificar influenciadores verdadeiramente competentes em finanças ou IA?

Identificar influenciadores verdadeiramente competentes requer uma abordagem sistemática e crítica, especialmente em áreas técnicas como finanças e IA. Aqui estão algumas estratégias eficazes:

Examine as credenciais formais do influenciador, incluindo formação acadêmica, certificações profissionais e experiência prática no setor. Em IA, por exemplo, influenciadores com doutorado em campos relevantes, publicações revisadas por pares ou experiência prática em empresas de tecnologia reconhecidas geralmente oferecem insights mais confiáveis.

Avalie o histórico de recomendações do influenciador e sua precisão ao longo do tempo. Em finanças, isso pode envolver o acompanhamento do desempenho de suas recomendações de investimento. Em IA, pode significar verificar se suas previsões sobre tendências tecnológicas ou recomendações de implementação se mostraram acertadas.

Observe se o influenciador apresenta evidências para apoiar suas afirmações, cita fontes confiáveis e reconhece as limitações de suas recomendações. Influenciadores competentes geralmente demonstram humildade epistêmica – reconhecendo o que não sabem e os limites de sua expertise.

Verifique se o influenciador está disposto a mudar de opinião quando confrontado com novas evidências, admitir erros passados e atualizar suas recomendações conforme o campo evolui. Esta flexibilidade intelectual é um indicador importante de competência genuína.

5. Quais são os vieses cognitivos que afetam nossa avaliação de recomendações de influenciadores?

Diversos vieses cognitivos afetam nossa capacidade de avaliar criticamente as recomendações de influenciadores. Compreendê-los é o primeiro passo para mitigar seu impacto:

O viés de confirmação nos leva a favorecer informações que confirmam nossas crenças preexistentes e a descartar ou minimizar informações contraditórias. Este viés explica por que tendemos a seguir influenciadores que reforçam nossas visões existentes, mesmo quando suas recomendações não são tecnicamente sólidas.

O efeito halo ocorre quando nossa impressão positiva de uma característica de uma pessoa (como carisma ou popularidade) influencia nossa percepção de outras características não relacionadas (como competência técnica). Este viés pode nos levar a superestimar a expertise de influenciadores carismáticos ou populares.

A autoridade percebida influencia significativamente nossa disposição para aceitar recomendações sem questionamento. Influenciadores que projetam confiança, usam jargão técnico ou possuem grandes números de seguidores frequentemente beneficiam-se deste viés, independentemente da qualidade real de suas recomendações.

O viés de disponibilidade nos faz superestimar a importância ou prevalência de informações que são facilmente lembradas ou acessadas. Recomendações de influenciadores que são frequentemente repetidas ou apresentadas de maneira memorável podem parecer mais válidas simplesmente devido à sua disponibilidade cognitiva.

6. Por que as redes sociais amplificam a influência de recomendações de baixa qualidade?

As redes sociais amplificam a influência de recomendações de baixa qualidade através de vários mecanismos estruturais e psicológicos interconectados. Compreender esses mecanismos é essencial para navegar criticamente no ambiente informacional contemporâneo.

Os algoritmos das plataformas de mídia social são projetados para maximizar o engajamento, não a precisão ou qualidade da informação. Conteúdo que gera reações emocionais fortes, simplifica excessivamente conceitos complexos ou faz promessas grandiosas tende a receber mais engajamento e, consequentemente, maior visibilidade algorítmica. Isto cria um ciclo de feedback que favorece influenciadores que priorizam o apelo emocional sobre a precisão técnica.

A velocidade de disseminação nas redes sociais supera significativamente a velocidade de verificação. Informações incorretas ou recomendações inadequadas podem se espalhar viralmente antes que especialistas tenham a oportunidade de avaliá-las criticamente. Este fenômeno é particularmente problemático em áreas técnicas como finanças e IA, onde a verificação adequada requer conhecimento especializado.

As câmaras de eco criadas pela homofilia e pelos algoritmos de recomendação limitam nossa exposição a perspectivas diversas e potencialmente corretivas. Quando seguimos principalmente influenciadores que compartilham nossas crenças e interesses, tornamo-nos menos propensos a encontrar informações que contradizem recomendações inadequadas que já aceitamos.

7. Quais estratégias posso adotar para avaliar criticamente as recomendações de influenciadores?

Desenvolver uma abordagem crítica para avaliar recomendações de influenciadores é uma habilidade essencial na era digital. Aqui estão estratégias práticas que podem ser aplicadas tanto no contexto de finanças quanto de IA:

Diversifique suas fontes de informação, buscando ativamente perspectivas variadas, incluindo aquelas que contradizem suas crenças existentes. Esta diversidade informacional ajuda a mitigar os efeitos da homofilia e das câmaras de eco, expondo você a um espectro mais amplo de análises e recomendações.

Priorize evidências sobre popularidade, avaliando criticamente as bases factuais e metodológicas das recomendações, não o número de seguidores ou likes que recebem. Em finanças, isso pode significar examinar os dados históricos de desempenho; em IA, verificar se as recomendações são apoiadas por pesquisas revisadas por pares ou resultados empíricos verificáveis.

Considere implementar uma abordagem “contrária” em alguns casos, especialmente quando recomendações populares parecem baseadas mais em hype do que em fundamentos sólidos. Pesquisas sobre finfluencers mostram que investir de forma contrária às recomendações de influenciadores anti-habilidosos frequentemente resulta em melhores retornos – um fenômeno conhecido como “sabedoria da multidão anti-habilidosa”.

Desenvolva seu próprio conhecimento básico nas áreas de interesse, permitindo que você avalie recomendações com maior independência. A alfabetização financeira e tecnológica são ferramentas poderosas contra a desinformação e conselhos inadequados, capacitando você a identificar inconsistências ou simplificações excessivas nas recomendações de influenciadores.

8. Como a educação crítica e a alfabetização tecnológica podem ajudar a mitigar os efeitos negativos de influenciadores não qualificados?

A educação crítica e a alfabetização tecnológica são fundamentais para criar uma sociedade mais resiliente à desinformação e às recomendações inadequadas de influenciadores não qualificados. Essas habilidades fornecem as ferramentas cognitivas necessárias para navegar no complexo ambiente informacional contemporâneo.

A educação crítica desenvolve a capacidade de avaliar a qualidade, validade e confiabilidade das informações, independentemente de sua fonte ou popularidade. Isso inclui habilidades como identificar evidências relevantes, reconhecer falácias lógicas, distinguir entre fatos e opiniões, e compreender como os vieses cognitivos afetam nosso processamento de informações. Quando aplicadas às recomendações de influenciadores, essas habilidades permitem uma avaliação mais objetiva e fundamentada.

A alfabetização tecnológica, por sua vez, fornece o conhecimento básico necessário para compreender os princípios fundamentais de áreas como finanças e IA. Este conhecimento serve como um filtro cognitivo, permitindo identificar recomendações que contradizem princípios estabelecidos ou fazem promessas irrealistas. Por exemplo, compreender os conceitos básicos de diversificação e risco em investimentos ajuda a reconhecer conselhos financeiros inadequados; similarmente, entender as capacidades e limitações reais da IA atual permite identificar exageros ou simplificações excessivas.

Juntas, essas habilidades promovem a autonomia informacional – a capacidade de formar opiniões e tomar decisões baseadas em uma avaliação independente das evidências disponíveis, em vez de simplesmente confiar na autoridade percebida de influenciadores populares.

9. Quais são as implicações desses achados para o futuro da disseminação de informações nas mídias sociais?

As descobertas sobre a relação entre popularidade e competência de influenciadores têm implicações profundas para o futuro da disseminação de informações nas mídias sociais, especialmente em áreas técnicas como finanças e IA. Estas implicações afetam tanto os usuários individuais quanto as plataformas e instituições.

Para as plataformas de mídia social, esses achados destacam a necessidade de repensar os algoritmos que atualmente priorizam o engajamento sobre a qualidade da informação. Futuras iterações dessas plataformas poderiam incorporar mecanismos para avaliar a precisão factual e a solidez metodológica do conteúdo, não apenas sua capacidade de gerar cliques e compartilhamentos. Isso poderia incluir parcerias com especialistas em diversos campos para desenvolver métricas de qualidade específicas para diferentes domínios de conhecimento.

Para instituições educacionais e reguladoras, esses achados ressaltam a importância de promover a alfabetização midiática, financeira e tecnológica em todos os níveis educacionais. As escolas e universidades precisarão adaptar seus currículos para incluir não apenas conhecimentos técnicos, mas também habilidades críticas para avaliar informações online. Órgãos reguladores poderão considerar novas abordagens para equilibrar a liberdade de expressão com a proteção contra conselhos potencialmente prejudiciais em áreas sensíveis como finanças.

Para pesquisadores, abrem-se novas avenidas de investigação sobre como melhorar a disseminação de informações de qualidade nas mídias sociais. Isso inclui o desenvolvimento de ferramentas tecnológicas para ajudar os usuários a avaliar a credibilidade de diferentes fontes, estudos sobre intervenções eficazes para mitigar vieses cognitivos, e análises comparativas de diferentes modelos de governança informacional.

10. Como posso contribuir para um ambiente de informação mais saudável nas áreas de finanças e IA?

Cada indivíduo pode desempenhar um papel significativo na criação de um ambiente informacional mais saudável nas áreas de finanças e IA. Aqui estão ações concretas que você pode adotar:

Pratique o compartilhamento responsável, verificando a precisão e a fonte das informações antes de compartilhá-las. Resista à tentação de disseminar conteúdo simplesmente porque é interessante ou alinhado com suas crenças. Considere adicionar contexto ou qualificações quando compartilhar recomendações de influenciadores, especialmente se houver perspectivas alternativas relevantes.

Apoie criadores de conteúdo que demonstram competência técnica, transparência metodológica e integridade intelectual, mesmo que não sejam os mais populares ou entretidos. Seu engajamento e apoio a esses criadores ajudam a amplificar vozes qualificadas que podem ser ofuscadas por influenciadores mais populares mas menos competentes.

Participe de comunidades online que valorizam o pensamento crítico e a diversidade de perspectivas. Estas comunidades frequentemente desenvolvem normas sociais que promovem a verificação de fatos, o debate construtivo e a aprendizagem coletiva, criando um ambiente mais propício para a disseminação de informações de qualidade.

Invista em sua própria educação contínua, desenvolvendo conhecimentos básicos nas áreas que lhe interessam e habilidades críticas para avaliar informações. Quanto mais informado você estiver, melhor equipado estará para contribuir positivamente para o ecossistema informacional e para ajudar outros a navegar criticamente no ambiente online.

Conclusão

A análise comparativa entre finfluencers e influenciadores de IA revela padrões preocupantes na disseminação de informações online. A popularidade não apenas falha em refletir competência técnica, como muitas vezes está negativamente correlacionada com ela. Este fenômeno, amplificado pelas dinâmicas das redes sociais e por vieses cognitivos como homofilia e viés de confirmação, resulta na propagação generalizada de recomendações inadequadas que podem levar a decisões financeiras e tecnológicas subótimas.

No entanto, compreender esses mecanismos é o primeiro passo para mitigar seus efeitos negativos. Através da educação crítica, alfabetização tecnológica e financeira, diversificação de fontes de informação, e uma abordagem mais cética às recomendações populares, podemos navegar mais efetivamente no complexo ambiente informacional contemporâneo.

A responsabilidade por um ecossistema de informação mais saudável é compartilhada entre usuários individuais, plataformas de mídia social, instituições educacionais e reguladoras. Ao trabalharmos coletivamente para valorizar a competência sobre a popularidade e a precisão sobre o engajamento, podemos criar um ambiente online que promova decisões mais informadas e baseadas em evidências, tanto em finanças quanto em implementações tecnológicas.

Fonte: Kakhbod, A., Kazempour, S., Livdan, D., & Schürhoff, N. (2023). “Finfluencers”. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=4428232. Acesso em: hoje.

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