O Declínio do Agile: Por que Gigantes da Tecnologia Abandonam Scrum

TL;DR: Grandes empresas de tecnologia como Google, Facebook e Netflix nunca adotaram completamente o Scrum, preferindo abordagens mais flexíveis focadas em autonomia das equipes e resultados. O setor está abandonando metodologias rígidas em favor de OKRs, ciclos mais longos e processos simplificados como “Plan, Build, Ship”. Scrum Masters e Agile Coaches estão sendo demitidos em massa, sinalizando uma mudança fundamental na indústria.

Takeaways:

  • Mais de 120.000 trabalhadores de tecnologia foram demitidos em 2023, com Scrum Masters e Agile Coaches liderando as demissões
  • Gigantes tech focam em contratar pessoas competentes e autônomas, confiando nelas para resolver problemas sem frameworks rígidos
  • OKRs e metas trimestrais estão substituindo sprints de duas semanas, priorizando resultados sobre rituais
  • A metodologia “Plan, Build, Ship” elimina cerimônias desnecessárias, focando apenas na entrega contínua de valor
  • O futuro é sobre “ser Agile” em vez de “fazer Agile”, mantendo princípios fundamentais mas descartando processos que não agregam valor

O Declínio do Agile: Por que as Gigantes da Tecnologia Estão Abandonando o Scrum e o Que Estão Usando Em Vez Disso

Você já se perguntou por que as maiores empresas de tecnologia do mundo nunca realmente abraçaram o Scrum? Enquanto milhares de organizações investem pesadamente em certificações Agile e contratam Scrum Masters, gigantes como Facebook, Google, Netflix e Amazon seguem um caminho completamente diferente.

A verdade é mais surpreendente do que você imagina: essas empresas não apenas evitaram o Scrum – elas estão provando que existe uma maneira melhor de desenvolver software. E agora, outras organizações estão seguindo seus passos, abandonando metodologias rígidas em favor de abordagens mais flexíveis e orientadas a resultados.

Se você trabalha com desenvolvimento de software, gestão de projetos ou liderança técnica, precisa entender essa mudança. Ela pode transformar completamente a forma como sua equipe trabalha e entrega valor.

O Êxodo dos Scrum Masters e Agile Coaches

Os números não mentem. Mais de 120.000 trabalhadores de tecnologia foram demitidos no primeiro semestre de 2023, e adivinhe quais papéis foram os mais afetados? Scrum Masters e Agile Coaches lideraram a lista de demissões.

Em uma turma recente de Certified Scrum Master, todos os participantes vinham de empresas que eliminaram os cargos de Scrum Master e Agile Coach. Não foi coincidência – foi uma tendência sistemática que está se espalhando pelo setor.

As empresas estão fazendo uma pergunta simples, mas devastadora: “Esses papéis realmente agregam valor suficiente para justificar o investimento?”

A resposta, aparentemente, tem sido “não” com frequência crescente. Em um ambiente econômico instável, organizações questionam o valor de profissionais Agile em tempo integral, especialmente quando suas equipes são maduras o suficiente para se auto-orientarem.

O que isso significa para você? Se você é Scrum Master ou Agile Coach, não entre em pânico – mas comece a evoluir. O mercado está mudando, e os profissionais que se adaptarem terão as melhores oportunidades.

A Realidade nas Grandes Empresas de Tecnologia

Aqui está um fato que pode chocar você: engenheiros em empresas como Facebook, WhatsApp, Google e Netflix raramente usaram Scrum em suas carreiras. Essas organizações nunca aderiram completamente às metodologias formais que o resto da indústria considera essenciais.

Um ex-Product Manager do Facebook resumiu perfeitamente a abordagem da empresa:

“Em mais de 1 ano como PM no Facebook, criei zero tickets ou tarefas. Também não fazemos sprints. PMs aqui focam em visão, estratégia e parcerias. Menos em gerenciamento de projetos e tarefas. Engenheiros assumem a maior parte da responsabilidade pelo gerenciamento de projetos e criam suas próprias tarefas.”

Essa abordagem pode parecer caótica, mas é na verdade bastante elegante. Em vez de frameworks rígidos, essas empresas focam em:

  • Contratar pessoas excepcionais e confiar nelas para resolver problemas
  • Objetivos claros em vez de processos detalhados
  • Entrega rápida sem cerimônias desnecessárias

Por que isso funciona? Grandes empresas de tecnologia contratam pessoas competentes e autônomas que necessitam de menos estrutura para produzir resultados confiáveis e de alta qualidade. A divisão entre equipes técnicas e não técnicas simplesmente não existe nessas organizações.

OKRs em Vez de Sprints

Em organizações com equipes empoderadas, uma mudança fundamental está acontecendo. Em vez de perguntar “O que podemos entregar nesta sprint?”, elas perguntam “Que resultado queremos alcançar neste trimestre?”

Essa mudança de perspectiva é revolucionária. OKRs (Objectives and Key Results), KPIs (Key Performance Indicators) e metas são ferramentas muito mais eficazes para alinhar equipes do que implementar metodologias rígidas como o Scrum.

Como funciona na prática:

  • Objetivos trimestrais claros substituem sprints de duas semanas
  • Métricas de resultado são mais importantes que velocity ou story points
  • Autonomia das equipes para decidir como alcançar os objetivos
  • Alinhamento estratégico em vez de foco em tarefas

A diferença é sutil, mas poderosa. Quando você empodera uma equipe para atingir um objetivo específico em três meses, ela encontra maneiras criativas e eficientes de chegar lá. Quando você a limita a entregar tarefas específicas em duas semanas, você restringe sua capacidade de inovação.

Planear, Construir, Enviar

A abordagem “Plan, Build, Ship” (Planear, Construir, Enviar) é comum em empresas de tecnologia públicas e financiadas por capital de risco. É refrescantemente simples:

  1. Planear: Descobrir o que precisa ser construído
  2. Construir: Desenvolver a solução
  3. Enviar: Colocar em produção
  4. Repetir: Começar o próximo ciclo

“Sem cerimônia, sem rituais complexos, apenas foco na entrega.”

Essa metodologia elimina a sobrecarga administrativa que muitas vezes acompanha frameworks mais complexos. Não há daily standups obrigatórios, retrospectivas formais ou planning poker. Existe apenas um foco laser na entrega contínua de valor.

Vantagens desta abordagem:

  • Menos tempo gasto em reuniões e mais tempo desenvolvendo
  • Flexibilidade para adaptar o processo conforme necessário
  • Foco nos resultados em vez dos rituais
  • Maior velocidade de entrega

Metodologia Shape Up

Algumas empresas financiadas por capital de risco adotaram a metodologia Shape Up, criada pela Basecamp. É como o primo mais legal e flexível do Scrum.

A Shape Up funciona com ciclos de 6 semanas seguidos por períodos de pausa dedicados. Durante as 6 semanas, as equipes se concentram intensamente em projetos específicos. Nos períodos de pausa, elas avaliam o progresso, experimentam novas ideias e planejam o próximo ciclo.

Características principais:

  • Ciclos mais longos permitem trabalho mais profundo e focado
  • Períodos de pausa oferecem tempo para reflexão e planejamento
  • Menos interrupções durante os ciclos de trabalho
  • Maior flexibilidade para adaptar o escopo conforme necessário

A metodologia reconhece que o trabalho criativo – como desenvolvimento de software – não se encaixa perfeitamente em sprints de duas semanas. Seis semanas oferecem tempo suficiente para resolver problemas complexos sem se arrastar indefinidamente.

O Problema Real Com o Scrum

Não se engane – o Scrum não é inerentemente ruim. Ele funciona muito bem em contextos específicos:

  • Equipes que precisam de proteção contra interrupções constantes
  • Organizações onde pessoas de negócios não entendem engenharia
  • “Kitchen sink teams” que recebem demandas de todos os lados
  • Ambientes onde a comunicação entre áreas técnica e não técnica é desafiadora

O problema surge quando o Scrum é aplicado universalmente, independentemente do contexto. Como um profissional experiente observou:

“Éramos empoderados o suficiente para remover partes do Scrum que atrapalhavam nosso caminho. Depois de um tempo, o que restou não representava Scrum de forma alguma – isso é exatamente o que vi acontecer em equipes maduras.”

Quando o Scrum se torna um problema:

  • Equipes autônomas que entendem o contexto de negócios
  • Organizações com comunicação eficaz entre áreas
  • Times maduros que podem se auto-gerenciar
  • Ambientes que precisam de velocidade e flexibilidade máximas

O Futuro do Agile

Aqui está a verdade: os princípios Agile não estão morrendo. Colaboração, resposta à mudança, software funcionando e indivíduos sobre processos continuam sendo valores fundamentais.

O que está desaparecendo são as cerimônias e rituais rígidos. As empresas estão evoluindo para uma cultura de autonomia, experimentação e feedback rápido, mantendo o que funciona e descartando o que não funciona.

Sinais dessa transformação:

  • Uma empresa de tecnologia mediu a satisfação dos engenheiros com o JIRA e obteve um Net Promoter Score (NPS) de -83
  • Equipes estão substituindo daily standups por syncs semanais
  • Story points estão sendo abandonados em favor de conversas sobre o que parece alcançável
  • O foco mudou de “fazer Agile” para “ser Agile”

O que isso significa para líderes:

Se você está liderando uma equipe, considere que talvez ela esteja pronta para mais autonomia. Talvez aqueles standups diários possam se tornar sincronizações semanais. Talvez você possa substituir story points por simplesmente conversar sobre o que parece alcançável.

Para Scrum Masters e Agile Coaches:

O futuro pertence a pessoas que podem:

  • Facilitar colaboração sem frameworks rígidos
  • Ajudar equipes a se alinharem em objetivos em vez de gerenciar sprints
  • Remover impedimentos sistêmicos em vez de apenas bloqueios diários
  • Construir cultura em vez de apenas seguir processos

Construindo o Futuro Além do Agile

A transição que estamos testemunhando não é sobre abandonar tudo que aprendemos. É sobre evolução inteligente. As empresas mais bem-sucedidas estão adotando abordagens personalizadas que combinam o melhor de diferentes metodologias.

Princípios que estão emergindo:

  • Autonomia sobre controle: Confiar nas equipes para encontrar as melhores soluções
  • Resultados sobre rituais: Focar no que realmente importa para o negócio
  • Adaptação sobre padronização: Ajustar processos às necessidades específicas
  • Cultura sobre compliance: Construir ambientes onde pessoas prosperam

Como implementar essa mudança:

  1. Avalie sua equipe atual: Ela precisa de mais estrutura ou mais liberdade?
  2. Experimente gradualmente: Remova uma cerimônia por vez e observe os resultados
  3. Meça o que importa: Foque em métricas de negócio, não em métricas de processo
  4. Ouça sua equipe: A satisfação dos desenvolvedores é um indicador importante
  5. Seja flexível: Esteja disposto a voltar atrás se algo não funcionar

A Revolução Silenciosa Continua

O que estamos testemunhando é uma revolução silenciosa no desenvolvimento de software. Enquanto muitas organizações ainda debatem qual framework Agile usar, as empresas mais inovadoras já se moveram para algo completamente diferente.

Elas entenderam uma verdade fundamental: o futuro não é sobre seguir frameworks, mas sobre construir equipes que podem se adaptar, aprender e entregar valor sem precisar de alguém para dizer como fazê-lo.

A escolha é sua: você pode continuar seguindo metodologias que funcionavam no passado, ou pode começar a construir o futuro do desenvolvimento de software hoje.

A mudança já começou. As gigantes da tecnologia mostraram o caminho. Agora, cabe a você decidir se vai seguir a liderança ou ficar para trás.

Lembre-se: não se trata de abandonar tudo de uma vez. Trata-se de evoluir conscientemente, mantendo o que agrega valor e descartando o que não funciona mais. O Agile verdadeiro sempre foi sobre adaptação – talvez seja hora de aplicar esse princípio às próprias metodologias Agile.


Fonte: Sohail Saifi. “The Death of Agile: Why Tech Giants Are Abandoning Scrum and What They Use Instead”. Disponível em: medium.com

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