O Dólar Está Caro?

por  Bryan Caulkins*

Apenas para registro histórico, este artigo foi produzido a finais de julho de 2020. Por que essa informação é importante? Porque esta pergunta tem sido feita inúmeras vezes ao longo de todos os dias deis de mediados de fevereiro deste ano. Afinal de contas, o dólar está caro?

A resposta simples é sim, o dólar está mais caro do que deveria estar. Mas há fortes indicações de que não deva recuar aos patamares normais, nem tão cedo, nem mais tarde. Podemos crer inclusive que o valor ideal comece a subir muito rapidamente e alcance o câmbio realmente cotado.

De acordo com algumas estimativas, o dólar está a cerca de 24% mais caro do que deveria ser o limite máximo do seu preço. Esses valores são obtidos através do acompanhamento das inflações da economia americana e da economia brasileira desde o momento em que o Real foi criado, em 1º de julho de 1994 (veja estudo abaixo). Se acompanharmos a curva ideal da cotação de câmbio, veremos que os valores deveriam estar entre R$ 4,17 e 4,24. Mas na prática, o que ocorre é que o valor da cotação do câmbio raramente está em conformidade com a linha ideal.

Faixa Ideal de Câmbio Real e Dólar (Ajustada pela Inflação no Brasil e nos EUA) e Projeção para 2036
Faixa Ideal de Câmbio Real e Dólar (Ajustada pela Inflação no Brasil e nos EUA) e Projeção para 2036

Várias razões competem para isso. Influências do fluxo de capital, instabilidade política, expectativas das mais variadas, fazem com que os valores saiam desta linha. Mas talvez a mais importante é que os mercados não conseguem fazer uma previsão precisa de eventos futuros, simplesmente porque, por ainda não terem ocorrido, o seu efeito não é completamente conhecido.

Entretanto, devemos olhar para situação agora e tentar obter mais informações sobre o que está ocorrendo.

A primeira coisa é que estamos ainda desenvolvendo um cenário econômico no meio da crise do COVID-19. Ainda desenvolvendo porque nunca antes no mundo ocorreu algo com tanta gravidade e extensão, logo ainda não somos capazes de estimar os efeitos com exatidão.

Há um evento de difícil mensuração, mas que não pode ser ignorado. A grande injeção de liquidez nas economias de todo mundo orquestrada pelos bancos centrais. Esse titânico aporte, feito na tentativa de mitigar os efeitos da crise, está sendo financiado basicamente às custas de novas emissões de dívida. Especificamente no caso do governo brasileiro isso é um problema que no futuro vai se revelar bastante sério. Já estamos operando há alguns anos com importantes déficits orçamentários, ou seja, nossa capacidade de fato para intervir e mitigar os efeitos da crise já era nula, e agora estamos fazendo com base em emissão de nova dívida. Para este ano está previsto um déficit de cerca de R$ 500 bilhões, 5 vezes maior que o originalmente esperado.

A injeção de dinheiro na economia via déficit tem um efeito muito importante na cotação ideal do dólar (aquela calculada), já que ampliar a base monetária sem que haja crescimento da economia, faz com que uma moeda se desvalorize. Exatamente por isso que a cotação ideal é obtida através da análise da inflação acumulada ao longo do tempo. O que os mercados têm feito é, na cotação atual, refletir todo este impacto futuro.

Algumas casas de análise chegaram a projetar o dólar na casa de R$ 7,00 em 2021. Talvez todo otimismo gerado com início da tramitação da reforma tributária e encaminhamento da reforma administrativa tenham contribuído para uma suave redução na pressão da cotação. Ao menos é o que mostram as últimas pesquisas divulgadas pelo boletim Focus do Banco Central, com uma melhora contínua na previsão semana após semana.

Entretanto, os dados econômicos ainda não capturaram todo o impacto na economia que a parada forçada na atividade econômica orquestrada pelos entes administrativos de forma a controlar a propagação do COVID-19 causou.

Para aquelas pessoas que tenham necessidades de curto prazo, de fato não é o momento de ir ao exterior, salvo que seja extremamente necessário. Já em relação ao investidor que visa o longo prazo e a diversificação internacional como uma das estratégias de proteção de patrimônio, especialmente contra esses fatores, instabilidade econômica, política, perda do poder de compra e câmbio, todo momento é o momento ideal para este movimento.

Para a maioria dos investidores, cujos prazos tendem a ser a partir de cinco anos, sim é momento de pensar fora do Brasil.

4 razões para isso:

  1. É muito pouco provável que o dólar recue a valores próximos a cotação ideal;
  2. A chance de que os cenários mais pessimistas se concretizem é bastante grande;
  3. Caso de fato haja um recuo da cotação do dólar aos valores ideais, isso indica que a nossa economia (e a de demais nações emergentes) está se recuperando e será fácil e barato comprar ativos de países emergentes em uma conta de investimentos em dólares;
  4. É mais fácil do exterior comprar ativos brasileiros do que o contrário, seja por oportunidade, custos ou eficiência tributária.

Sim, o dólar está caro. Mas assim como home-office, comer no seu restaurante preferido através de delivery, menos contato físico e outras tantas situações novas, o dólar nesses patamares é o novo normal e talvez fique mais caro nos próximos meses e anos, como acontece desde 1996.

Para entender mais e realizar um diagnostico sobre a proteção do seu patrimônio, agende uma conversa sem compromisso conosco.

* Bryan Caulkins é International Financial Advisory
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