Tendências de Consumo: Conteúdos Densos vs. Rasos em Plataformas Digitais

Em um cenário digital marcado pela abundância de estímulos rápidos e efêmeros, cresce o interesse em compreender se os usuários estão, de fato, resgatando o valor do conteúdo aprofundado. Este artigo investiga, com base em dados de mercado, estudos comparativos e estatísticas de consumo entre 2019 e 2024, a hipótese de que há uma tendência emergente de valorização de conteúdos densos, reflexivos e recorrentes – como podcasts extensos, newsletters autorais, vídeos longos e artigos aprofundados – em contraponto ao domínio de conteúdos curtos, virais e de consumo instantâneo. A análise se apoia em fontes confiáveis e globais, com o objetivo de oferecer uma visão estruturada sobre a evolução do comportamento da audiência nas principais plataformas digitais.

Resumo Executivo

Nos últimos cinco anos observamos uma dualidade no consumo de mídia digital. Por um lado, formatos curtos e virais – como vídeos breves no TikTok/Reels, stories efêmeros e posts resumidos – alcançaram enorme popularidade, impulsionando bilhões de views e altas taxas de recall publicitário. Por outro lado, emergiu paralelamente uma valorização crescente de conteúdos longos, densos e reflexivos, indicando que os usuários estão dispostos a dedicar mais tempo quando o conteúdo oferece profundidade e valor. Diversos dados corroboram essa tendência: o consumo de podcasts explodiu (Spotify contabilizou 100 milhões de ouvintes frequentes em 2023, um aumento de 10x desde 2019), plataformas de newsletter como o Substack tiveram crescimento exponencial (já somam ~20 milhões de usuários mensais, com 2 milhões de assinaturas pagas) e até mesmo redes sociais centradas em vídeos curtos começaram a expandir a duração máxima de seus conteúdos – o TikTok, por exemplo, passou de 60 segundos para até 10 minutos e já testa uploads de 30 minutos. Ao mesmo tempo, conteúdos aprofundados mantêm públicos engajados: longas reportagens atraem tempo de leitura bem superior às notas curtas e 51% dos usuários do YouTube afirmam preferir vídeos de marca mais longos, embora vídeos curtos também tenham seu apelo. Em suma, a análise das evidências indica que não apenas há espaço, mas demanda crescente por conteúdo aprofundado nos meios digitais. O público está combinando o consumo rápido e casual do conteúdo curto com experiências mais imersivas e recorrentes proporcionadas por textos longos, podcasts extensos, vídeos longos e newsletters autorais. A conclusão é que existe de fato uma tendência emergente de valorização do conteúdo denso e reflexivo, sem prejuízo do sucesso dos formatos breves, mas complementando-os – sinal de um comportamento de mídia mais diversificado e maduro, onde a atenção do usuário é fragmentada entre saciedade imediata e enriquecimento profundo.

Dados e Fontes sobre Formatos “Densos” vs “Rasos”

Gráfico 1: Consumo de vídeos no Brasil (2024) – Em um único dia, 63,6% dos brasileiros assistem a vídeos; no acumulado de um ano, os vídeos alcançam 99,5% da população. O formato vídeo é onipresente e vai desde conteúdos curtíssimos até produções longas e informativas, indicando que praticamente todos os brasileiros consomem vídeo em alguma profundidade temporal.

  • Engajamento com Vídeos Curtos vs. Longos: Globamente, o vídeo curto teve crescimento explosivo. Com a pandemia, o consumo de vídeos breves (estilo TikTok) saltou ~40% globalmente, e plataformas como TikTok alcançaram 2 bilhões de usuários (47–58 minutos de uso diário em média). No entanto, vídeos longos online continuam retendo audiência significativa. No YouTube, usuários passam em média quase 49 minutos por dia e preferem ligeiramente conteúdo mais longo: 51% dos usuários dizem preferir vídeos de marca mais longos, versus ~31-60 segundos para conteúdos curtos, que ainda assim têm forte apelo. Dados de desempenho indicam que, inclusive dentro das plataformas de vídeo curto, conteúdos um pouco mais longos tendem a gerar mais engajamento – em 2024 a duração média dos vídeos no TikTok subiu para ~43 segundos (era 39s em 2023), e vídeos TikTok mais longos (>54s) obtiveram em média 38 mil visualizações, enquanto os muito curtos (<10s) tiveram menor engajamento (~19 mil views). No YouTube Shorts observa-se fenômeno similar: shorts de 50–60 segundos alcançam mais views que aqueles de 15–30s. Por outro lado, em vídeos extensos a taxa de conclusão relativa diminui – por exemplo, vídeos <1min retêm ~50% do público em média, ao passo que vídeos com mais de 60 minutos retêm ~17% – mas vale notar que, em termos absolutos, 17% de uma hora equivale a ~10 minutos de atenção engajada, muito superior a 50% de um vídeo de 1 minuto (30s). Isso sugere que o público consome porções significativas de conteúdo longo quando este é relevante. A TV conectada também impulsiona vídeos longos: 34% do tempo de visualização do YouTube no Reino Unido já ocorre em aparelhos de TV, refletindo a migração de conteúdos digitais longos para a tela grande. Em resumo, o vídeo curto domina em volume e viralidade, mas coexiste com uma forte presença de vídeo longo – tanto que o TikTok tem ampliado seus limites (já testa vídeos de 30 minutos) diante do sucesso de conteúdos mais extensos na plataforma.
  • Audiência de Podcasts (áudio longo) vs. Clipe de áudio curto: Os podcasts tornaram-se um fenômeno de longo formato em áudio. Globalmente, eram 12% dos americanos ouvindo podcast mensalmente em 2013, saltando para 42% em 2023; semanalmente passou de 7% para 31% no mesmo período, indicando crescente recorrência. Em 20 países analisados pela Reuters Institute, 34% da população online escuta podcasts mensalmente (e 12% consomem podcasts de notícias regularmente). O crescimento pós-2019 é evidente: o Spotify tornou-se a plataforma de podcast mais usada em vários mercados e ultrapassou 100 milhões de ouvintes regulares, um aumento de 10 vezes desde 2019. Projeções indicam ~465 milhões de ouvintes de podcast no mundo em 2023, rumo a 505 milhões em 2024. Essa adesão reflete maior disposição para consumir áudio de longa duração: muitos dos podcasts mais populares são “deep dives” jornalísticos ou conversas estendidas (como The Daily com ~30 min diários, ou Joe Rogan Experience frequentemente acima de 2 horas) – formatos de maior profundidade que lideram a audiência em diversos países. Inclusive, ~29% dos usuários globais dizem ter passado mais tempo ouvindo podcasts em 2023 do que no ano anterior, contra 19% que reduziram tempo, revelando um saldo positivo de engajamento. No Brasil e América Latina, segue-se tendência similar: estudos apontam que países latino-americanos estão entre os que mais adotam podcasts semanalmente (o Brasil frequentemente aparece no topo desses rankings). Em contraste, formatos de áudio ultra-curtos (ex.: áudios de voz efêmeros estilo Clubhouse) mostraram-se modismo passageiro – apenas 3% dos profissionais de marketing chegaram a usar plataformas como Clubhouse e o interesse do público geral nesses clipes de áudio curtos arrefeceu. Já o áudio longo consolidou-se como hábito: ouvintes costumam integrar podcasts a rotinas (transporte, tarefas domésticas, exercício), consumindo episódios inteiros regularmente. Importante notar que a fidelidade é alta – uma vez inscrito, o ouvinte de podcast tende a acompanhar episódios recorrentes, indicando engajamento profundo. Em síntese, o formato podcast demonstrou que conteúdos longos em áudio atraem audiências massivas e engajadas, ao ponto de 66% dos consumidores afirmarem preferir podcasts a assistir TV tradicional (dado de uma pesquisa global de 2023), valorizando a liberdade de escolher temas e a profundidade das discussões.
  • Textos Longos, Newsletters e Blogs vs. Posts Curtos: No âmbito textual, há sinais claros de resiliência e renascimento do conteúdo longo. Plataformas de newsletter autoral como o Substack revelam apetite por textos aprofundados: a empresa saiu de 25 mil assinantes pagos em 2018 para atingir 2 milhões de assinaturas pagas e 35 milhões de inscrições ativas em 2023. São mais de 20 milhões de usuários ativos mensalmente consumindo newsletters no Substack, muitas das quais são ensaios longos, análises ou jornalismo investigativo. Na prática, leitores demonstram disposição até mesmo de pagar por conteúdo escrito de qualidade – nos EUA, 8% dos assinantes de notícias já pagam por newsletters de jornalistas independentes (modelo paid newsletter), algo ainda concentrado no mercado americano mas crescendo. Métricas de engajamento reforçam a eficácia do formato: por exemplo, a newsletter argentina Cenital envia 1,5 milhão de emails por mês com uma taxa de abertura de 48,5% – um índice altíssimo que sugere leitores fiéis dedicando tempo à leitura dos boletins densos. Já no consumo de notícias online, uma pesquisa do Pew Research demonstrou que mesmo no celular – considerado um ambiente de atenção reduzida – os usuários gastam em média 123 segundos lendo artigos longos (≥1000 palavras) contra 57 segundos nos curtos, ou seja, o dobro do tempo de engajamento. E apesar de artigos curtos serem mais numerosos, um artigo longo recebe praticamente o mesmo número de visitas que um curto (média ~1.530 interações completas por artigo longo vs. 1.576 por curto), indicando que a demanda por conteúdo aprofundado se equipara à dos conteúdos breves em termos de alcance por peça. Além disso, leitores que retornam a um artigo longo tendem a passar ainda mais tempo (277 segundos em média) nele, sugerindo alto interesse. No Medium e em blogs, consolidou-se a convenção de “7 minutes read” (~1600 palavras) como formato ideal para engajar profundamente sem cansar – muitos autores relatam que posts detalhados (>1500 palavras) geram mais compartilhamentos e melhor SEO do que notas rápidas. O Content Marketing reflete isso: posts longos voltaram à estratégia das marcas – pesquisas recentes mostram marketers e criadores reportando engajamento superior no conteúdo longo. Uma enquete de 2023 com 4.000 consumidores e 500 criadores revelou que 38% dos consumidores aumentaram o consumo de conteúdo longo no último ano e quase metade dos jovens (44% de 16–24 e 48% de 25–34 anos) quer mais conteúdo de formato longo no próximo ano. Os criadores concordam: 64% aumentaram a produção de conteúdo long-form e 39% afirmam que conteúdos longos geram melhor engajamento que os curtos. Ou seja, contrariando o senso comum, a Geração Z e os millenials não querem só tweets e memes – há um desejo latente por artigos aprofundados, análises extensas e narrativas mais elaboradas. Esse renascimento do texto longo convive com o tsunami de posts efêmeros: nas redes sociais, threads curtas e frases de efeito ainda reinam em volume. Porém, plataformas têm criado espaços para texto longo (ex.: artigos do LinkedIn, textões no Facebook, limite expandido no Twitter/X para assinantes) justamente para atender público que busca discussão mais substancial.
  • Redes Sociais: Postagem “Rasa” vs. Conteúdo “Denso” e Recorrência: Nas mídias sociais profissionais e de nicho, nota-se a preferência por conteúdo de valor agregado mesmo que extenso. No LinkedIn, por exemplo, análises mostraram que posts curtos (até ~300 palavras) geram cerca de 15% mais curtidas e comentários imediatos do que posts longos, graças à leitura rápida e apelo instantâneo. Entretanto, o conteúdo longo no LinkedIn – como artigos aprofundados ou carrosséis informativos – tende a converter mais leitores em tráfego para sites e leads, construindo autoridade do autor/marca. A própria base de usuários do LinkedIn indica buscar insights úteis: ênfase em educação e profundidade supera discurso corporativo raso (compartilhar informações ricas é a prioridade #1 para 88% dos gestores pesquisados). Ou seja, “valor” é sinônimo de profundidade nesse contexto. Em outras plataformas, a dicotomia também aparece: no Instagram, conteúdo curto e visual (Reels, Stories) gera alto alcance, mas houve investimento em formatos mais longos como lives e vídeos no feed de até 60 minutos, visando segurar a atenção e permitir narrativas mais complexas. No Facebook, posts extensos com “ver mais” competem com memes – embora não faltem comunidades dedicadas a textos longos (grupos de discussão, etc.). Um dado do Sprout Social sugere que até mesmo para branding, os vídeos mais longos no YouTube são levemente preferidos pelo público sobre os curtinhos, apontando que contexto e storytelling completos são apreciados pelo usuário. Em termos de recorrência e fidelização, os formatos densos têm vantagem: um vídeo viral curto pode ser esquecido após a rolagem, enquanto um podcast semanal de 1h ou uma newsletter diária de 5 minutos de leitura estabelecem um hábito na vida do usuário – criando um público recorrente. Essa recorrência se reflete em métricas como retenção e session time: por exemplo, usuários de podcast dedicam em média 7+ horas semanais ao formato (vários episódios) e assinantes assíduos leem newsletters todos os dias, enquanto no consumo algorítmico de vídeos curtos o tempo total pode até ser alto mas fragmentado entre muitos criadores. Em resumo, nas redes sociais e plataformas de conteúdo, o conteúdo raso gera picos virais e engajamento instantâneo, mas o conteúdo profundo gera engajamento sustentado, lealdade e conversão. As duas modalidades passaram a se complementar na estratégia de produtores e marcas, ao invés de se excluírem.

Análise Interpretativa – Comportamento do Público e Tendências Emergentes

Os dados acima revelam um público multifacetado, que transita entre a gratificação instantânea dos snack contents e a satisfação duradoura de imersões profundas. Longe de indicar uma simples “troca” de conteúdo curto por longo, as tendências sugerem um equilíbrio novo no comportamento de consumo:

  • Fadiga do Conteúdo Superficial: O crescimento na busca por formatos densos parece, em parte, reação à sobrecarga de inputs rápidos. Estudos qualitativos apontam uma certa “fadiga de rolagem” – usuários se veem saturados por feeds intermináveis de posts triviais e vídeos virais repetitivos. A resposta desse público é um “retorno ao conteúdo de qualidade”, privilegiando momentos de consumo mais deliberado. Como destaca Sophie Crowther (Billion Dollar Boy), há uma “rejeição do scroll passivo e um retorno a um consumo mais consciente” do conteúdo. Em outras palavras, os usuários valorizam tomar controle do seu tempo, escolhendo dedicar meia hora a um podcast ou a ler uma análise, em vez de passar a mesma meia hora pulando de microvídeo em microvídeo sem retenção profunda. Essa mudança de postura denota um amadurecimento digital: após alguns anos imersos no fast content, parte da audiência busca pausas de atenção para conteúdos reflexivos.
  • Atenção Continua Existe (se houver valor): Contra a ideia popular de que a internet “encurtou a atenção” das pessoas, os dados provam que atenção prolongada ainda pode ser conquistada. Usuários maratonam séries por horas, ouvem podcasts de 2 horas, lêem newsletters diariamente – desde que o conteúdo tenha relevância ou entretenha de forma consistente. O engajamento 2x maior em artigos longos comparado a curtos e a lealdade dos ouvintes semanais de podcasts ilustram que as pessoas se engajam por longos períodos quando o conteúdo atende seus interesses. Assim, a questão não é que “ninguém tem paciência”; é que a paciência é seletiva e proporcional à qualidade percebida. Para produtores de conteúdo e marcas, isso reforça a importância de oferecer substância: contextos, narrativas e informações que justifiquem o tempo investido pelo usuário. Aqueles que conseguem isso vêm colhendo frutos – e, de fato, marcas estão apostando mais em conteúdo long-form por acreditarem que gera maior ROI e combate a saturação criativa. A confiança e a autoridade também entram em jogo: conteúdos profundos tendem a construir credibilidade (seja o especialista que publica um artigo detalhado no LinkedIn ou o jornalista com newsletter investigativa), enquanto conteúdos superficiais demais podem passar sensação de oportunismo vazio. Em termos de comportamento, muitos usuários agora reservam momentos específicos para consumir conteúdo longo (por exemplo, ouvir um podcast dirigindo, ler uma newsletter no início do dia), incorporando-o em suas rotinas diárias – diferente do consumo casual e disperso do conteúdo raso.
  • Convergência de Plataformas – “Short & Long” lado a lado: Uma tendência marcante é que as plataformas digitais deixaram de ser exclusivamente de um formato e passaram a integrar múltiplas durações. O TikTok adicionando vídeos de até 10 minutos ou mais, o YouTube criando o Shorts (sem abandonar vídeos longos), o Instagram equilibrando Reels com IGTV/Live, e até o Twitter (X) estendendo limite de caracteres para assinantes, tudo isso sinaliza uma convergência. As fronteiras entre formatos curtos e longos estão mais difusas – as plataformas entenderam que para reter audiência precisam oferecer tanto a diversão rápida quanto a profundidade, conforme o momento do usuário. Para o público, essa convergência é conveniente: na mesma plataforma ele pode saciar diferentes necessidades (ex.: usar o YouTube tanto para clipes engraçados de 30s quanto para aulas de 1h). Essa multifuncionalidade alimenta um comportamento onde o mesmo usuário consome ambos os tipos de conteúdo dependendo da ocasião. Por exemplo, um jovem pode passar o dia vendo shorts no celular, mas à noite colocar um podcast longo ou um vídeo explicativo no computador/TV. Dispositivos e contexto importam: o mobile impulsionou o boom do formato curto, mas o aumento do consumo em telas de TV conectada e smart speakers mostra uma retomada de formatos longos em ambientes de atenção mais relaxada (sala de estar, etc.). Em mercados emergentes (Brasil incluído), a popularização das smart TVs e melhora de banda larga também impulsiona streaming e vídeos longos na TV, complementando o uso móvel intenso de conteúdo breve.
  • Indicadores de Qualidade e Engajamento Profundo: O comportamento de buscar conteúdo longo também pode ser visto como um sinal de maior confiança nessas mídias. Por exemplo, na área de notícias, a assinatura de newsletters pagas e a audiência de podcasts de notícias refletem um público engajado que procura curadoria e profundidade em vez de se informar apenas por manchetes de redes sociais. Isso tem implicações na sociedade: a informação aprofundada forma cidadãos mais bem informados, enquanto a dieta exclusiva de fragmentos virais pode empobrecer a compreensão. Não por acaso, organizações jornalísticas e educacionais investem pesado em podcasts e newsletters para conquistar tempo de qualidade com seu público. A recorrência – como abrir todo dia a mesma newsletter – cria um laço entre produtor e audiência que é mais difícil de obter via posts esparsos nas redes. Do ponto de vista de marketing e comunidade, conteúdos longos favorecem a formação de comunidades e seguidores leais. Um criador de conteúdo que mantém um blog ou canal com vídeos de 30 minutos provavelmente atrai seguidores realmente interessados no tema, mais propensos a interagir, comentar e até defender aquele conteúdo. Já um vídeo de 15 segundos pode viralizar amplamente, mas muitas vezes com interação superficial (curtir, passar adiante e esquecer). Assim, o tipo de engajamento difere: o curto traz quantidade de interações, o longo traz qualidade (interações mais significativas, discussão aprofundada, feedbacks elaborados). Para as plataformas, ambos são valiosos – por isso vemos TikTok investindo em comentários mais ricos, enquetes, etc., e YouTube destacando métricas de tempo de exibição além de views. Para anunciantes, o cenário é parecido: anúncios em formato curto atingem muita gente rapidamente (alto recall de marca), mas anúncios inseridos em conteúdo longo (ex.: patrocínio de podcast ou product placement em vídeo longo) podem gerar conexão mais forte e melhora na consideração de produto, visto que o público está realmente prestando atenção por mais tempo em contexto de confiança.
  • Diferenças Demográficas e Regionais: É importante destacar que a preferência por conteúdo denso não é uniforme em todas as faixas etárias ou regiões – mas a tendência está se espalhando transversalmente. Jovens historicamente aderiram primeiro aos formatos curtos (Snapchat, TikTok etc.), e de fato continuam consumindo muito conteúdo rápido, sobretudo visual. No entanto, como visto, há um interesse crescente dos jovens por profundidade também – metade dos <35 anos quer mais conteúdo long-form. Já os públicos mais velhos (ex: >45 anos) sempre tiveram inclinação a formatos tradicionais mais longos (TV, jornais extensos) e agora muitos estão migrando esses hábitos para o digital (ex.: ouvindo podcasts de rádio, lendo artigos online). Geograficamente, mercados como Estados Unidos e alguns países europeus lideram a monetização de conteúdo longo (ex.: newsletters pagas, grande oferta de podcasts locais), enquanto no Brasil e América Latina o consumo desses formatos cresce de forma mais orgânica: há enorme audiência para podcasts gratuitos e blogs, embora a monetização via pagamento direto ainda seja incipiente fora de nichos. Ainda assim, Brasil se destaca: a penetração de podcasts e YouTube é altíssima no país, indicando que o brasileiro médio já incorpora horas de conteúdo sob demanda (muito além dos clipes virais) em seu dia a dia. A tendência global indica que mesmo onde os vídeos curtos do TikTok conquistam a maioria, surgem microbolhas de interesse por aprofundamento – creators do TikTok, por exemplo, frequentemente direcionam seguidores para seus canais no YouTube ou podcasts para conteúdo mais longo e detalhado. Essa integração sugere que o ecossistema de mídia do futuro próximo será híbrido, atendendo simultaneamente à atenção rápida e à imersão prolongada, dependendo do perfil do usuário e do momento de consumo.
  • Implicações Futuras: Mantida a direção atual, podemos prever maior profissionalização e investimento em conteúdo longo online. Empresas de mídia e marcas já sinalizam que não basta “estar presente” em trending topics com posts curtos – é preciso engajar o público em nível mais profundo. Os relatórios de tendências de mídia (e.g. Kantar Media Trends 2025) enfatizam a “batalha pela atenção” onde vencerá quem oferecer experiências mais personalizadas e relevantes em meio à saturação de ofertas. Conteúdo longo de qualidade é uma das armas para vencer essa batalha, pois entrega valor intrínseco e não apenas distração. Por isso, espera-se ver: mais colaborações com creators para produzir séries, podcasts ou vídeos documentais; plataformas aprimorando ferramentas de descoberta de conteúdo longo (p. ex., TikTok podendo ter seção separada para vídeos >5min, YouTube destacando podcasts e lives); e modelos híbridos de monetização, combinando alcance do conteúdo gratuito curto com receita advinda do conteúdo premium longo (um exemplo é o YouTube que já oferece podcasts e vídeos longos com anúncios, enquanto o Shorts serve de funil de entrada). Do lado do usuário, com a contínua evolução tecnológica (5G, dispositivos wearable, carros conectados), o acesso a conteúdo extenso ficará ainda mais facilitado em qualquer lugar – o que pode ampliar a audiência de formatos longos on-the-go. Em contraponto, o conteúdo curto não vai desaparecer – ao contrário, seguirá como porta de entrada para novos temas e entretenimento casual. Porém, a convivência com opções de profundidade significa que cada vez mais usuários terão a possibilidade de “mergulhar” no assunto que lhes interessa após serem fisgados pelo snippet inicial. Essa jornada do superficial ao profundo pode se tornar o padrão: por exemplo, um usuário vê um vídeo curto viral sobre saúde no Instagram, depois escuta um podcast de 1 hora sobre o tema no Spotify e finalmente assina uma newsletter semanal daquele especialista para se manter informado. Em síntese, o comportamento de consumo de mídia está se tornando mais estratégico e consciente por parte do usuário, que alterna entre diferentes camadas de conteúdo conforme sua necessidade de momento – seja entretenimento rápido ou entendimento aprofundado.

Referências Bibliográficas

  • Kantar IBOPE Media – Inside Video 2025 (Brasil): Dados de alcance e insights sobre consumo de vídeo em 2024.
  • Sprout Social – Social Media Demographics 2025: Estatísticas de uso do YouTube (tempo diário ~49min) e preferência por vídeos de marca longos (51%).
  • HubSpot / Statista – Marketing Statistics 2024/25: Dados comparativos de vídeo curto (TikTok) vs. engajamento; duração média no TikTok 42,7s (2024) e melhor desempenho de vídeos TikTok >54s; taxa de engajamento por duração de vídeo (Wistia).
  • Comscore via NumberAnalytics – Short-Form Video Trends: Crescimento de 40% no consumo global de vídeo curto durante a pandemia (2020).
  • Pew Research Center – Mobile 2016: Estudo pioneiro mostrando maior tempo médio gasto em artigos longos (123s) vs curtos (57s) no celular e alcance similar por artigo.
  • Spotify Newsroom – Podcast Growth (2023): Spotify alcança 100 milhões de ouvintes regulares de podcast (10x desde 2019).
  • Loopex Digital / Edison Research – Podcast Statistics 2025: Número global de ouvintes de podcast (464 milhões em 2023); aumento da penetração nos EUA (42% mensal, 31% semanal em 2023, vs 12%/7% em 2013).
  • Reuters Institute – Digital News Report 2023: Uso de podcasts (34% mensal globalmente) e popularidade de podcasts “deep dive” e conversacionais longos; crescimento de consumo de áudio noticioso e percentuais que aumentaram vs diminuíram tempo em podcasts; adoção de newsletters pagas nos EUA e exemplo de newsletter com alta taxa de abertura (Cenital, ~48%); tendência de aumentar ofertas de newsletters individuais via plataformas como Substack.
  • Upfront Digital – Engajamento no LinkedIn (2023): Análise comparativa indicando posts curtos gerando ~15% mais curtidas e comentários imediatos que posts longos, enquanto posts longos geram mais tráfego e leads.
  • Billion Dollar Boy – Research 2023: Survey com 4.000 consumidores e 500 creators mostrando resurgimento do conteúdo long-form – 38% dos consumidores consumiram mais long-form no ano, ~45% dos <35 anos querem mais conteúdos longos; 64% dos creators aumentaram produção long-form e 39% veem engajamento superior ao short-form. Comentário qualitativo sobre rejeição ao scroll e busca de consumo mais consciente.
  • Sprout Social – Gen Z e TikTok para notícias: 63% dos usuários Gen Z usam TikTok para se informar de notícias, mostrando popularidade do formato curto entre jovens (contraponto às preferências por profundidade em outros contextos).
  • Statista – Uso Diário de Plataformas: Tempo médio diário em TikTok (~54 minutos) vs YouTube (~48 minutos) globalmente, demonstrando engajamento alto em ambas modalidades.
  • Pew Research Center – Preferência por Podcasts vs TV: Dado de 2023 indicando 66% dos consumidores preferindo ouvir podcasts a ver TV, denotando mudança de hábito para um formato mais interativo e on-demand.
  • Kantar IBOPE Media – Media Trends 2025: Discussão sobre saturação de conteúdo (boom de streaming) e batalha pela atenção, exigindo conteúdo de qualidade e experiências híbridas para engajar consumidores voláteis.
  • HubSpot – State of Marketing 2024: Adoção de formatos longos por marcas (25% dos profissionais já usam podcasts, 47% planejam aumentar investimento em áudio) e eficácia de formatos de vídeo (vídeos explicativos longos gerando 96% de entendimento de produto).

Cada referência acima oferece evidências objetivas da evolução no consumo de mídia digital, embasando a análise sobre a preferência relativa por conteúdos profundos versus superficiais. Todas as estatísticas e afirmações foram vinculadas às fontes originais conforme solicitado.

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