As empresas de serviços contábeis perante a modernidade e as perspectivas de profissão no 3º milênio

Prof. Dr. Antônio Lopes de Sá

As empresas de serviços contábeis perante a modernidade e as perspectivas de profissão no 3º milênio

Prof. Antônio Lopes de Sá

(resumo da conferência proferida no encerramento do XVII Encontro das empresas de serviços contábeis, promovido pelo SESCON de São Paulo, em Campos do Jordão, em Agosto de 2.000)

A origem da Contabilidade se perde na noite dos tempos A evolução de tal conhecimento, o mais antigo do mundo, prosseguiu sempre em ascensão e nos dias atuais passa por sua mais intensa revolução.

Novos aspectos são acenados e os profissionais precisam adaptar-se aos mesmos. Tentam-se uniformizações de procedimentos e a prosperidade é tida como a meta principal da função de assessoramento a ser cumprida.

Nessa nova perspectiva o contabilista precisa enquadrar-se e transformar-se em agente do bem estar social através de apoio aos empreendimentos. Ao conhecimento prático da experiência é preciso acrescentar-se o da teoria, para a melhoria da qualidade dos serviços, uma das condições mais disputadas no mercado de trabalho profissional.

Memorização e nascimento das contas

Foram os registros contábeis as primeiras manifestações de progresso inteligente do homem, ainda no Paleolítico Superior, há mais de 30.000 anos e disto se possui provas abundantes em inscrições feitas nas cavernas e em ossos.

Antes que se soubesse escrever e antes que soubesse calcular a conta surgiu como um recurso de memória.

No Brasil possuímos, em várias partes de nosso território, as inscrições e pinturas que representam quantificações e identificações de coisas.
Progressos da informação contábil

O grande progresso da escrita contábil ocorreu na Suméria, há cerca de 6.000 anos, quando, em registros feitos em argila, produziram-se balanços, orçamentos e peças de custos (ver sobre isto a nossa obra História Geral e das Doutrinas da Contabilidade, edição Atlas).

Criou-se o uso do débito e do crédito (como expressão do “meu” e do “seu”), o controle dos mesmos e atribui-se o nascimento das partidas dobradas àquele povo genial.

Ao inventar-se o papiro, no Egito, então, com os registros em folhas, ao costurá-las, criaram-se os livros.

A preocupação principal, na antiguidade (e por muito tempo seria assim) estava em registros para “guardar memória” de fatos institucionais e empresariais, apurar resultados e possuir noção sobre as existências, constituindo-se igualmente dessa forma os meios de provas.

A auditoria já existia na Suméria, há milhares de anos, havendo vestígios dela em prestação de contas da área pública.

Gregos, romanos, indianos, chineses, tiveram grandes controles contábeis e escrita bem analítica e existem referencias do uso das partidas dobras no século VII de nossa era, no Egito.

Os processos só evoluíram, todavia, de forma expressiva, a partir da era capitalista do mercantilismo (fins da Idade Média) e a partida dobrada à italiana foi a que predominou pela qualidade dos procedimentos utilizados.


O grande avanço para a racionalização do conhecimento contábil

Quando os conhecimentos humanos empíricos projetaram-se em direção a uma organização racional, em avanços de lógica, com o alto uso da razão, também a Contabilidade acompanhou esse desenvolvimento.

Nos fins do século XVIII já estava organizada a base do que no início do século XIX seria a “ciência contábil” (em 1.836).

Surgiram então grandes estudiosos que entenderam que o importante não era só registrar e demonstrar, mas, especialmente, entender sobre o que tais coisas significavam.

O que fazer com o registro passou a ser o alvo.

Os grandes contabilistas daquela época em que se formaram as doutrinas proclamaram que uma coisa é a simples informação e outra a que ela representa.

Muitas escolas de pensamentos surgiram e as teorias apareceram com vigor.

A teoria é uma conseqüência natural da aplicação da inteligência, da razão, em face do que se observa e se anota (veja-se meu livro Teoria da Contabilidade, edição Atlas).


A revolução da informação

A disputa pelos mercados, a evolução científica, a mudança de consciência social, a concentração de capitais, a informática, a telemática, foram alguns dos fatores que revolucionaram o mundo na segunda metade do século XX.

Mercados Comuns, globalização, a acirrada especulação dos capitais, a valorização da criatividade, os efeitos negativos sobre a natureza, foram alguns dos bascos fatores que exigiram mudanças na Contabilidade.

Tornou-se imperioso entender que a gestão racional deve ser a que busca a prosperidade não só das empresas, mas, também, do todo onde ela se insere, ou seja, da sociedade, do planeta.

Mesmo com as reações dos que ainda não aceitam tais mudanças essas estão sendo operadas de forma veloz.

Temas relativos à Harmonização das informações, Contabilidade Social, Contabilidade Ambiental, Contabilidade dos Recursos Humanos ou Intelectuais, Contabilidade de Estratégias, foram alguns dos segmentos que se impuseram e que nos fazem visualizar modificações de metodologias em nossa profissão.

A Contabilidade abandona, a cada dia, a limitação que sofreu durante séculos de estar encasulada ao ambiente da empresa ou da instituição.

Já não é mais possível admitir a passividade dos registros, mas, sim possuir a consciência de que é preciso entendê-los em sua dinâmica para que se produzam modelos que orientam em direção da prosperidade.
A harmonização normativa

Padronizar procedimentos de registros e demonstrações, para serem entendidos em todas as partes, visando a maior segurança informativa, vem sendo uma tentativa de instituições governamentais e de classe.

Isto ainda não se conseguiu ainda em virtude da imposição estadunidense em desejar que seus modelos sejam os mundiais e da reação dos europeus (comunidade européia) e asiáticos (especialmente chineses) em aceitar tal imposição.

A gravidade está em que hoje um balanço, de uma mesma empresa, de uma mesma data, esteja evidenciando lucros nos Estados Unidos e prejuízo na Europa, ou vice e versa , tornando tal fato incompreensível ao leigo e ao público interessado na informação.

Tais divergências se devem ao tratamento desigual e especialmente ao alternativo adotado para classificar e demonstrar fatos.

Todos estão de acordo que é preciso unificar, mas, os norte-americanos não cedem em suas pretensões de predomínio e isso tem dificultado a questão.

Reunião realizada entre as maiores entidades internacionais (como a ocorrida em março de 1999) para conseguir harmonizar normas contábeis, resultou mais em solução política que em realidades técnica e científica.

Exemplo foi o do “dividendo a distribuir” e que os estadunidenses consideram como parte do capital próprio e os europeus como exigibilidades; a solução encontrada foi a de que tanto pode ser uma coisa como outra, ou seja, algo vexatório para um conhecimento onde a verdade não pode ter duas faces de uma só coisa.


Organismos normatizadores

Vários organismos nacionais e internacionais, oficiais e privados, cuidam das normatizações contábeis, mas, os mais influentes internacionalmente têm sido o IASC e o FASB (embora existam outros similares em África, e Ásia, e nacionais na Inglaterra, Brasil, Austrália etc.).

As Bolsas de Valores estão a exigir uma solução para o caso e constituíram a IOSCO, uma entidade para tal fim.

Em nosso país, o órgão que assumiu a responsabilidade normativa foi o CFC, mas, outros também têm normatizado como a CVM e o IBRACON.

O governo vem tirando do CFC o poder absoluto de normatizar, entregando a comissão mista.

Em meu entender vai-se cometendo uma grande injustiça com a classe dos contabilistas e o resultado será um inevitável prejuízo para a nação nesse remendo novo em pano novo e de má qualidade que se está a colocar em aprovação no Congresso.

Papel ativo das empresas de serviços contábeis

As modificações operadas internacionalmente exigiram das empresas de serviços contábeis mudanças de comportamento.

Já não é suficiente hoje o cumprimento de exigências fiscais (que era o predominante).

As empresas de melhor qualidade estão assessorando seus clientes oferecendo-lhes diretrizes de comportamentos para a maior eficácia.

Sabemos que tais trabalhos devem operar-se em nível gerencial, ou seja, reconhecendo-se que nem sempre a escrita oficial é aquela que mais orienta e que contem todos os dados necessários e reais.

Isso porque a lei nos obriga a mentir, ou seja, o que está estabelecido na legislação nem sempre é a verdade e nem o que interessa para fins administrativos (gastos em aperfeiçoamento de pessoal, por exemplo, pode ser despesa para fins fiscais e legais, mas, para a empresa é na realidade um investimento).

De nós está sendo exigida uma nova postura que venha a ver a empresa como algo vivo, comprometido com o seu ambiente e que tende a perdurar e não apenas como algo que procura produzir provas e fugir de tributos através de seus registros.

A maioria dos empresários pode entender muito bem de seu ramo, mas, contábil e administrativamente são leigos, muitas vezes, necessitando de nosso direcionamento.

Limites de compras, de gastos, de prazos de vendas etc. podem ser estabelecidos por modelos contábeis e devem formar parte contumaz de um relato, ainda que simples, ao cliente.

Sempre adotei o critério de marcar entrevistas com os clientes, de porte médio a maior, para oferecer-lhes opiniões sobre os negócios e isso resultou em benefícios recíprocos, ou seja, meus e dos empresários.

A Contabilidade alcançou hoje tais níveis de evolução que nos permite determinar com precisão matemática os limites de composição de um capital (como devem estar combinados os valores para a promoção da prosperidade).

Diversos são os empresários de serviços contábeis que tenho associados ao meu escritório para oferecer-lhes metodologias nesse sentido; nosso dever é cooperar com os colegas e não o de observá-los como adversários nos mercados.


Contabilidade para fins estratégicos

Tal como em uma guerra os generais precisam estabelecer as estratégias de combate, também na grande guerra permanente dos mercados a empresa precisa traçar as suas estratégias de concorrência.

Nesse particular vem-se desenvolvendo um ramo especifico da Contabilidade e que se tem intitulado de Contabilidade de Estratégias.

Muitos estudiosos entendem que esse ramo de nossa disciplina não se deve confundir com o que se denominou de Contabilidade Gerencial.

Estudiosos de diversas partes do mundo estão cooperando no sentido de oferecer quadros de comando estratégico e existem sistemas que se vendem nos mercados com rotulagens até de “exclusividade” e com “direitos assegurados” aos autores.

Entendemos como certo exagero essa forma de proceder, pois, é o conhecimento da Contabilidade Científica, das Doutrinas, o que habilita a estabelecer modelos e são esses os que estruturam as estratégias.

Cada escritório de Contabilidade, como empresa de serviços, pode ter o seu próprio sistema, todos inspirados na grande fonte da doutrina da Contabilidade (ver minha obra Teoria da Contabilidade, editora Atlas).

Contabilidade para fins de concentração de empresas


Nas últimas décadas tem havido uma corrida para a disputa dos mercados internacionais e uma vocação acentuada para a concentração de capitais.

Isso tem exigido do profissional da Contabilidade sérios esforços no sentido de aprofundar-se, especialmente, na determinação do “valor de negócio”.

Não conheço um só industrial, um só comerciante, que venda a sua empresa pelo valor que a escrita oficial determina.

Existe uma inequívoca potencialidade de valores que não se evidenciam e que precisa ser determinada.

Tal fato exige aprofundamento dos estudos do profissional, especialmente no que tange aos Ativos Imateriais.

A perspectiva de lucros dos negócios tem sido uma base para determinar valores de fundo de comércio, mas, é preciso observar que nem sempre o lucro esperado é o que é projetado através de cálculos sobre os resultados passados.

Há toda uma técnica a observar-se e que exige dos profissionais estudos específicos.

Concentrações de empresas, vendas de empresas, saídas de sócios etc. necessitam de determinação do valor efetivo do capital das empresas.

A era holística da contabilidade

Vivemos já, na atualidade, a era holística da Contabilidade, com uma prodigiosa ampliação do nosso conhecimento e da aplicação do mesmo.

Não é sem razões que muitos invadem o nosso território e desejam violar as conquistas que tanto nos custaram de esforços no passado.

Cada vez mais a Contabilidade se torna um conhecimento indispensável para a consecução das metas das células sociais, em busca da prosperidade e cada vez mais a prosperidade social depende disso.

É a Contabilidade a ciência da riqueza dos empreendimentos e o conhecimento humano que pode oferecer meios para a conquista da prosperidade.

A somatória da prosperidade das células conduz a prosperidade social.

Logo, é a Contabilidade o caminho da prosperidade das sociedades e os contabilistas os responsáveis por esse bem estar da humanidade.

Essa a consciência hoje predominante e aquela que se traduz na doutrina do neopatrimonialismo que implanto com a minha Teoria das Funções Sistemáticas do patrimônio.

As empresas prestadoras de serviços contábeis possuem altíssima responsabilidade nacional e o desempenho eficaz das mesmas está na qualidade do trabalho que desempenham, exigindo sempre atualização de conhecimento e formas especiais no trato da clientela.