Boa parte dos problemas de recursos humanos surge e toma corpo quando algo estranho paira no ar. Aquele misto de medo, desconfiança e profusão de boatos, gerado por conhecidos vilões: lideranças truculentas, falta de transparência e outras práticas nada produtivas; muito pelo contrário.
Realizar uma pesquisa para detectar como os colaboradores do seu escritório de contabilidade se sentem todo dia ao iniciar o expediente, o quão felizes retornam às suas casas e o ânimo com que retornam ao trabalho no dia seguinte é o primeiro passo para identificar o clima reinante na casa.
Por conta própria, ou contando com a ajuda de terceiros, os responsáveis pelo RH contam atualmente com recursos tecnológicos e a própria expertise que tem se acumulado num campo que, durante muito tempo, foi colocado em segundo plano ou simplesmente ignorado.
Diferentemente de cultura corporativa, que envolve valores, comportamentos, hábitos e soft skills, o clima não obedece a qualquer manual de regras, mas sim conclui um cenário composto pelos mais diversos aspectos positivos e negativos, devendo os primeiros serem mantidos e até ampliados, na mesma proporção em que os segundos desapareçam.
Mas como fazer uma pesquisa de clima?
Um bom começo, visando trazer à tona pontos fortes e fracos da empresa, é acertar na abordagem, isto é, quais aspectos tratar e de que forma fazê-lo.
Dentre as questões dirigidas aos colaboradores com maior frequência estão as relacionadas a jornada, salário, além do respeito à distribuição de funções e tarefas.
Isso não impede que a pesquisa de clima foque também aspectos mais específicos, relacionados a peculiaridades da empresa, chegando ainda a pontos como a qualidade de vida de cada funcionário.
Alguém pode, por exemplo, ter parado de estudar em função da distância entre a empresa e a escola, não raro agravada por um trânsito complicado no horário em que a pessoa sai.
A entrada mais cedo durante a semana, ou até mesmo uma jornada suplementar aos sábados, poderia solucionar o problema, caso uma pesquisa de clima indique ser esta uma alternativa para ambas as partes.
Sem mexer nesta ferida, porém, nada aconteceria, a não ser o provável desligamento do colaborador ou sua desistência escolar.
Juntamente com a objetividade e a pertinência dos pontos que levanta, é desejável a realização da pesquisa de clima com uma certa frequência, permitindo assim que o RH possa medir resultados e identificar pendências a resolver.
Será que vale a pena?
Esta dúvida, felizmente, tem habitado cada vez menos a mente dos empresários, quando entra em pauta a possibilidade de realizar pesquisas de clima.
Fica fácil entender a razão desta postura mais contemporânea quando se examinam alguns dos principais benefícios trazidos pela prática.
Quem já não ouviu falar, por exemplo, na Síndrome de Burnout, aquela diagnosticada pelos psicólogos e psiquiatras quando alguém passa mal só de pensar que mais uma segunda-feira se aproxima?
Mesmo quando não provoca este quadro, a falta de motivação derruba o desempenho das equipes, resultando em crescimento notável nos índices de desligamentos, faltas e atrasos.
Há ainda ganhos intangíveis a computar. Dentre eles, uma boa percepção da marca, seja qual for a atividade da empresa, pois ao mudar de emprego, após ter trabalhado onde se sentia valorizado e tinha satisfação de fazer parte de um time, dificilmente alguém sairá criticando seu antigo empregador.
O próprio RH sai ganhando, ao buscar melhorias para todos com esse tipo de iniciativa. Afinal, ao conhecer melhor a visão dos colaboradores, os profissionais da área podem escolher melhor até mesmo os cursos e treinamentos mais adequados a oferecer, o que por si só motiva a equipe, ao perceber a preocupação da empresa também com o seu futuro.
Ainda mais quando se possui boas ferramentas de comunicação interna, fator importante para incentivar o compartilhamento de opiniões.
Como consequência disso tudo, a organização por inteiro ganha, ao contar com gente mais bem preparada para os diversos desafios e circunstâncias, inclusive já pensando na saída gradativa da pandemia, quando fatores como produtividade e retenção de talentos deverão pesar como nunca.
Preliminares
A exemplo de tantas outras atividades corporativas, uma pesquisa de clima que se preze tem início pelo planejamento.
É neste momento que se definem aspectos básicos incluindo cronograma, delegação de responsabilidades no time executor, de que forma será feita a divulgação dos resultados e claro, a estrutura do questionário a ser distribuído.
Neste último quesito, a ênfase deve recair sobre o conjunto de perguntas capaz de mapear não apenas os pontos clássicos de um trabalho do gênero, mas também particularidades relacionadas à conjuntura vivida pela organização no momento.
A etapa seguinte é informar a todos os desenvolvidos os itens acima, bem como deixar bem claro que a pesquisa não objetiva avaliar o desempenho das pessoas, mas sim o clima imperante na organização.
Execução
Uma providência bastante interessante para obter respostas honestas e reveladoras é permitir a opção de anonimato, bem como a voluntariedade do processo.
Igualmente é desejável é automatizar a operação, tanto para facilitar o preenchimento da pesquisa, quanto à visualização e ao mapeamento dos dados levantados, quanto engajar o a equipe o máximo possível.
Quanto ao material obtido, deve ser analisado em reuniões entre o RH e todos os departamentos da empresa, a fim de agilizar ao máximo a resolução dos gargalos mais graves e urgentes detectados.
A exemplo das fases anteriores, os colaboradores precisam participar também desta, sendo informados sobre os pontos mais impactantes encontrados e quais medidas serão tomadas a fim de equacioná-los.
Day After
Conhecendo bem mais o que se passa dentro de casa e tendo acionado a direção e os diversos departamentos para a busca de ações corretivas, a transparência deve continuar à frente das prioridades do RH.
Em conjunto com a área de comunicação interna ou terceirizada da empresa, chega a hora de colocar os objetivos das pessoas e da organização em destaque na pauta dos newsletters e outras peças de divulgação, inclusive remodelando as antigas ou dando origem a novas, se necessário.
Finalmente, para ter sempre no radar os rumos tomados, os próximos caminhos e os resultados atingidos a cada pesquisa de clima, a grande missão do RH é, já no dia seguinte, começar a preparar a próxima, pois só mesmo a continuidade pode assegurar tudo de bom que este hábito, para lá de saudável, pode conceber.