por Roberto Dias Duarte
Fundada há 25 anos, a Proinconta nem sempre esteve focada no setor de contabilidade. Por necessidade do mercado, em 1993 José Teixeira e mais dois sócios criaram a empresa com outro foco.
“Inicialmente, a Proinconta começou por elaborar projetos dedicados aos investimentos econômicos, não foi à contabilidade como vertente de negócios no objeto social, mas 90% da atividade operacional da empresa estava relacionada com os estudos econômicos”, conta.
Atualmente, e depois de alterações e cortes por parte do governo português, José decidiu direcionar as ações da empresa para a contabilidade.
“Felizmente as coisas foram acontecendo e surgiram novos clientes. A nossa postura nunca foi de competição por preço e sim com o objetivo de prestar um serviço de qualidade aos clientes” , assume.
José Teixeira, formou-se em Gestão de Empresas, mas atualmente assume sozinho o “leme” da empresa que atua sobretudo na área contábil e de gestão de pessoal. Com sede em Rio Tinto, cidade situada na região norte de Portugal, a empresa conta com uma equipe de 5 colaboradores e cerca de 90 clientes de vários ramos de atividade, sendo na sua maioria do setor de serviços (60%).
Contabilidade Digital: a realidade portuguesa
Eu tenho participado de encontros em Portugal e acompanhado como o mercado de lá tem se comportando frente às mudanças na contabilidade. E embora não seja profundo conhecedor da realidade brasileira, José Teixeira percebeu com nossa troca de experiência que Portugal ainda está longe da realidade de muitos escritórios no Brasil.
“Me parece que de fato o Brasil está um pouco mais à frente na questão tecnológica”, diz.
Também Gil Sousa, da Megavale Informática, empresa portuguesa de software para contadores, percebeu essa mesma realidade.
“Nós temos tido uma grande dificuldade em fazer as pessoas perceberem esta questão da transformação digital. Muitos acreditam que é algo que ainda está por vir, no futuro e que não é imediato”.
Esta visão tem atrasado o processo que visa agregar mais valor para os clientes dos escritórios contábeis, segundo o cofundador da Megavale.
Para Gil, é preciso mudar o mindset e fazer o contador ter uma atitude empreendedora. A relação de Gil e da Megavale com a transformação digital é antiga e falarei mais sobre ela no próximo post. O workshop que aconteceu em Porto tinha um objetivo muito claro: servir como um chamado de atenção.
“Alertar os escritórios de contabilidade sobre o que vem aí e que nós podemos ajudar nessa transformação digital, porque se não a fizerem terão, provavelmente de fechar portas”.
Este cenário também impactou José Teixeira da Proinconta.
“Acho que os escritórios estão começando a perceber agora, até porque existem muitas obrigações que precisam ser tratados mensalmente, que é necessário automatizar para liberar tempo para oferecer outros serviços aos clientes. É preciso fazer com que o escritório de contabilidade agreguem valor aos empresários e não apenas tratem de impostos”, revela o diretor da Proinconta.
Contabilidade sem papéis?
Segundo Gil Sousa e José Teixeira, a AT (Autoridade Tributária), órgão responsável por administrar os impostos, direitos aduaneiros e demais tributos em Portugal, tem um impacto importante no que tange a transformação digital na contabilidade em Portugal.
“Apesar da evolução que a AT fez nos últimos anos, a mesma não aceita a digitalização dos documentos, só aceita o papel”, afirma Gil.
Para ambos esse é um fator que limita os avanços dos escritórios de contabilidade em Portugal.
“Não faz absolutamente nenhum sentido hoje em dia, nós podermos enviar as faturas por via eletrônica e depois a AT nos obrigar a imprimir esse documento para arquivar na contabilidade e a mantê-lo guardado durante 10 anos”, conta o dono da Megavale.
Além disso, José aponta que “a dificuldade está em fazer os clientes perceberem o valor agregado de apostar forte em inovação, como forma de sair da competição por preço e entregar um serviço diferenciado ao cliente”.
E Gil acrescenta: “Alguns escritórios de contabilidade acreditam que a ideia da transformação digital é extraordinária, mas trará custos que precisam ser repassados aos clientes, e a coisa esbarra aí”, conclui.
O dono da Proinconta, José Teixeira deixa o alerta:
“Aqui em Portugal, os contadores que não tiverem um pensamento mais à frente e continuarem a tratar a contabilidade de um modo tradicional, não vão resistir muito tempo. Isto porque vão aparecer empresas (já existem!) com outra dinâmica, com outra abordagem de serviços que vai ultrapassar claramente as empresas tradicionais”.
José Teixeira acrescenta que o cliente vai começar a sentir que falta de outro tipo de serviço e que o mercado vai começar a selecionar quem está oferecendo serviços que vão além da contabilidade. “O que vai acontecer depois é o resultado do marketing boca a boca entre clientes”, alerta.