Valores e propósito, o começo de tudo para negócios vencedores

Valores e propósito, o começo de tudo para negócios vencedores

Muito mais que lemas e slogans motivadores, frases definindo “quem somos” e “onde queremos chegar” fazem toda a diferença nos empreendimentos que dão certo

Certamente não é coincidência o fato de grandes empresas e marcas terem por trás de si conceitos vigorosos envolvendo valores e propósitos, aspectos tão ou até mais significativos que seus próprios produtos e serviços.

Por mais que os mercados venham se modificando mundo afora, nomes mundiais como Hewlett Packard, 3M, Johnson&Johnson, Procter & Gamble, Merck, Sony e Motorola se adaptaram a tantas mudanças sem aviltar os preceitos formadores de seus DNAs.

O tema é recorrente no mundo da gestão e hoje chega a ser inevitável, frente à onda disruptiva em marcha de forma generalizada, tendo como motivação extra a pandemia de COVID-19 e a avalanche de novos hábitos dela decorrente.

Prova da perenidade do assunto é o artigo da Havard Business Review, veiculado nos idos de 1996, sob o título “Construindo a Visão da Sua Empresa, de autoria dos estudiosos norte-americanos Jim Collins e Jerry I. Porras, que passaram seis anos analisando a questão.

Segundo a dupla, um dos segredos das empresas verdadeiramente grandes é ter bem clara a diferença entre aquilo que pode ser mudando, face às diferentes circunstâncias e tendências, e seus dogmas imutáveis, verdadeiras razões de ser de sua existência.

Boa parte dos empreendimentos, porém, tem grande dificuldade ao tentar fugir de armadilhas frequentes que desaguam, invariavelmente, em conceitos vagos e confusos, ao invés de considerar os dois elementos básicos ao se conceber de forma acertada a visão de um negócio: ideologia central e futuro imaginado.

De acordo com os pesquisadores, a interdependência entre os dois conceitos pode ser comparada à existente entre as milenares figuras orientais do yin (aspetos imutáveis) e yang (progresso, adaptação a mudanças).

Empresas realmente visionárias têm como tradição se importar mais com a sua identidade do que propriamente os rumos a serem tomados com o passar do tempo.

Acreditam, portanto, no caráter imutável de sua ideologia central, ao passo que líderes morrem, produtos ficam obsoletos, mercados surgem e desaparecem, o mesmo ocorrendo com tecnologias e práticas gerenciais.

Essa fidelidade ao Big Bang empresarial tem fornecido a liga para muitas corporações se manterem coesas em suas gestão e recursos humanos, mesmo se expandindo globalmente, em boa parte dos casos.  

Collins e Porras comparam tal dinâmica à do judaísmo, cujos princípios mantiveram -se inabalados ao longo de séculos, mesmo seu povo não tendo sequer uma pátria, a princípio. Nem mesmo a dispersão trazida pela diáspora esvaziou a cultura judaica.

Mas como definir claramente os valores fundamentais de uma organização?

A fim de facilitar a tarefa de quem busque respostas para essa pergunta até hoje atualíssima, os estudiosos invocam exemplos como o da P&G, cujos fundadores William Procter e James Gamble desde o início levaram essa questão muito a sério.

Há quase duzentos anos, os dois empreendedores superaram em muito a obviedade da excelência de produtos, estabelecendo como primeiro mandamento o bom atendimento ao cliente, palavra de ordem até hoje na Procter & Gamble em âmbito mundial.

Esta verdadeira obstinação na escolha de um caminho para fazer a diferença é uma característica comum aos negócios que têm mudado o mundo, nos mais diversos segmentos.

Outra coincidência apontada pelo estudo envolvendo as organizações visionárias se refere à simplificação na hora de estipular valores essenciais. Nenhuma das marcas pesquisadas tinha mais de cinco, ficando a média entre três e quatro.

Cuidado com os erros mais frequentes na escolha de valores essenciais

Ir além desses limites quase sempre sinaliza confusão entre valores essenciais e práticas operacionais, estratégias de negócio ou normas culturais.

Uma forma de evitar este pecado frequente na área é esboçar uma lista preliminar e submeter cada item à seguinte questão: se as circunstâncias mudassem e nos penalizassem pela manutenção deste valor essencial, mesmo assim o manteríamos? Se a resposta honesta não for afirmativa, o valor deve ser descartado.

Este tipo de análise já levou empresas a deixar a qualidade, por mais importante que ela seja, com o status apenas de estratégia, e deixando como valor essencial, por exemplo, princípios ligados à inovação, bem como a resolução de determinados gargalos específicos do mercado.

Valores essenciais não mudam

Haja o que houver na conjuntura fora da empresa, nada justifica a mudança dos seus valores essenciais.

Este ponto é tão pacífico, no entender dos estudiosos, que se um mercado se modificar a ponto de não mais corresponder ao perfil da empresa, é preferível que ela altere o segmento a ser atendido, a mudar a razão de ser de sua própria existência.

Propósito central

Tão imutável quanto os valores fundamentais de um negócio é o objetivo que justifica cada dia de atuação de todos os seus recursos materiais e humanos.

Diferentemente da competência da empresa, quesito de cunho estratégico, ele deve funcionar como uma estrela-guia no horizonte, sempre perseguida, mas nunca alcançada, um verdadeiro motor para a busca constante de aprimoramento e progresso.

Há ainda quem confunda este item com a mera descrição de produtos e mercados de atuação, entendimento limitado que levaria Walt Disney a se contentar com a produção de desenhos animados, caso de fato não pretendesse “tornar as pessoas mais felizes”, seu verdadeiro mote. Da mesma forma, Henry Ford não teria a popularização do automóvel como ideal, e assim por diante.

Como encontrar?

Um método bastante eficaz para a definição do propósito central é se questionar, repetidas vezes, a importância dos pontos colocados pelos gestores como dignos de justificar o nascimento de um negócio.

Também conhecido como “cinco porquês”, esse sistema sugere a quíntupla indagação sobre aquilo que se imagina relevante a ponto de representar a pedra de toque na vida da organização, fator igualmente considerável para se atrair e reter talentos.

Ao passar por esta reflexão, uma empresa que produza asfalto e cascalho, por exemplo, pode concluir que seu propósito é tornar mais segura e confortável a vida de motoristas e passageiros nas ruas e estradas.

E embora a obtenção de lucro seja um pressuposto no capitalismo, só adotam este aspecto como propósito central as empresas que ainda não encontraram um significado maior para o seu trabalho, algo que não se cria, mas sim descobre. E o quanto antes, melhor.

Se você ainda não fez isto no caso do seu escritório, mãos à obra, pois certamente existem valores e fundamentos muito bem arraigados nele, para que tenha chegado bem até aqui.