Sim, o mercado de serviços contábeis no Brasil é extraoridiário! Os números comprovam. Já demonstrei isso detalhadamente, mas há um dado que vale destacar novamente:
O Life Time dos clientes dos escritórios brasileiros é de 18 anos. Isso quer dizer que, na média, os clientes mantém contratos com seu prestador de serviços contábeis por esse período. Compare isso com o mercado de telcomunicações ou mesmo de software em nuvem. .
Este nosso modelo de precificação por “assinatura”, ou seja, receitas mensais fixas recorrentes, gerou uma grande vantagem competitiva com relação à maioria dos outros países.
Perceba que o padrão de cobrança de honorários na maioria dos países é o valor/hora. Empresas de serviços contábeis enfretam dois grandes problemas por causa disto:
- Com a adoção de tecnologias em nuvem e sistemas de gestão (ERP) nos clientes, há um enorme ganho de produtividade. Rob Nixon, em seu livro “The Perfect Firm” publicou uma pesquisa que ele conduziu analizando dados de escritórios da Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Reino Unido. A conclusão foi que 5 anos após a utilização intensiva de tecnologia, o ganho de produtividade foi de 60% nas horas trabalhadas. Daí surge o paradoxo: quanto mais produtivo, menor as receitas do escritório!
- A cobrança de honorários por hora trabalhada também reduz o Life Time Value (margem líquida x Life Time) dos clientes. Simples assim!
Por outro lado, há números que precisamos analisar com atenção. Veja:
- Dados do “Global Accounting Services: Market Research Report” indicam receitas de U$464 bilhões no setor. Conforme pequisa que realizei, no Brasil os escritórios de contabilidade faturam R$61 bilhões. Isso representa uma fatia de 3,5% do todo.
- No mundo há 1.273.466 empresas de serviços contábeis que empregam 5.652.000 profissionais.
- No Brasil há 64.929 escritórios que empregam 714.219 profissionais.
- O crescimento anual médio do setor foi de 3.9% com lucratividade de 17,3%. No Brasil, não há dados confiáveis sobre isto.
Escritórios de contabilidade: Brasil x Mundo
A tabela abaixo resume a situação do nosso país com relação ao mundo.
Como estamos com relação ao mundo?
- Temos muitas empresas de serviços contábeis. Mantendo o patamar de 3,5% das receitas globais em serviços contábeis, o Brasil só comportaria cerca de 45 mil escritórios, ou seja, 30% a menos.
- Temos muita gente trabalhando em escritórios. Para atingirmos a média do mundo, precisamos multiplicar por 4 a nossa produtividade.
- A receita por empresa é 30% menor que a média global e a receita por empregado é 1/3 da média mundial.
Alguns poderão argumentar que o ambiente de negócios hostil em nosso país é a causa destes indicadores ruins. Temos o sistema tributário mais complexo do mundo e uma burocracia estatal surreal. Isso é um fato incontestável. Há estudos do Banco Mundial que evidenciam isso.
Mas, como é possível termos empreendedores extraordinários?
Agora, analise essa outra tabela que compara as 20% maiores e 80% menores empresas do setor contábil no Brasil:
Ao separarmos os 80% menores escritórios dos 20% maiores, os números mudam significativamente. Os maiores brasileiros têm a receita 2,5 vezes a média global! A produtividade por empregado continua ruim, 31% da média mundial. Mas é quase 2 vezes maior que a produtividade dos pequenos escritórios brasileiros.
Qual é a conclusão, então?
Fatores exógenos às empresas até poderiam explicar a baixa produtividade no setor contábil brasileiro brasileiro.
Contudo, mesmo com ambiente de negócios complexo, a utilização de tecnologias em nuvem para integrar empresas e escritórios seria suficiente para colocar os grandes escritórios brasileiros no patamar de produtividade global. Lembre-se que Rob Nixon detectou que a produtividade mais que dobra após a implantação de sistemas em nuvem.
Nossos grandes escritórios já provaram que conseguem obter receitas extraordinárias. Além disso, conseguem um Life Time é de 18 anos, tornando o negócio contábil no Brasil extremamente atrativo. Enfim, há muitas oportunidades neste mercado, mas nosso empreendedor já provou que é capaz de aproveitá-las.
E os pequenos? Quais os caminhos?
Para os pequenos, o primeiro ponto é a conscientização. É preciso ter em mente, que nosso país comporta, nos parâmentros atuais, apenas 2/3 dos atuais escritórios de contabilidade.
E, para prosperar é preciso investir em: tecnologia, processos, marketing e desenvolvimento profissional multidisciplinar.
Há opções para isto. Todas com pontos positivos e negativos:
- Captação de recursos de terceiros. Isso dilui a participação societária dos fundadores. A grande dificuldade é encontrar investidores que se enquadram nos atuais parâmentros regulatórios da atividade.
- Financiamentos em instituições financeiras. Essa é uma questão estrutural do país. O crédito é caro e escasso.
- Fusões. Só funciona com alto grau de profissionalismo e planejamento.
- Franquias. É um modelo misto onde o empreendedor perde parte de sua autonomia no processo decisório, mas reduz investimentos e riscos.
- Venda. É uma opção que também encontra barreiras regulatórias, gerando um mercado comprador menor e, consequentemente, preços de aquisição menores.
Enfim, todas estas alternativas demandam alto nível de profissionalização dos empreendedores. E, não se iluda: não há solução mágica! Amadurecer, dói!